(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

10.2.14

Mensagem

A mensagem

Ela mandou-me uma mensagem a sugerir um tema de crónica. Recordei de imediato como foi que a conheci. Lembrei-me da sua atitude vivaça e da confluência da nossa maneira encantada e curiosa de olhar para a vida.
Narrou-me que recentemente tinha defendido, perante o pai e amigos, a sua visão da vida: para ela a felicidade é viajar e viver cada ano num lugar diferente do mundo. O pai replicou-lhe que pode viver nesse "mundo da fantasia" porque não tem responsabilidades com família, filhos, casa e carro. Ela respondeu que, caso tivesse responsabilidades, iria ser feliz à mesma e continuaria a seguir a sua filosofia de vida.
Só que no fim... bem, no fim da mensagem, a Angela acabou por me pedir para escrever sobre isto: a responsabilidade retira a liberdade de opção das filosofias de vida?
Quero começar por duas premissas básicas que talvez não estejas a ter em conta, Angela. A primeira é que, apesar de teimarmos em resistir à mudança, somos seres em constante mutação interior. O que hoje é de suprema importância, amanhã pode já não ser; aquilo a que hoje não ligamos nenhuma pode ser, no futuro, a génese da nossa felicidade. A segunda premissa é que a esmagadora maioria da humanidade é profundamente sedentária. Por mais que sejamos rebeldes, sedentos de mundo e nos vejamos como nómadas inveterados, na verdade temos uma falta imensa de raízes e de um lar para onde voltar. O mundo só faz sentido se houver um cantinho de afetos que é nosso.

Mas deixa-me formular a minha opinião num contexto bem mais geral, que não se prenda só com a filosofia de conhecer o planeta inteiro.
A liberdade de opção é limitada pelas responsabilidades. Isto não é uma teoria, é mais uma fórmula matemática do que outra coisa qualquer. As responsabilidades trazidas pelo emprego, pelo sustento da casa e criação de uma família (entre muitas outras responsabilidades que escolhemos ou que nos são impostas) implicam necessariamente uma diminuição drástica da liberdade de viver os anos ao sabor da nossa vontade.
Contudo as responsabilidades que tomamos nas mãos são, por si mesmas, um produto da nossa liberdade de escolha (pelo menos é assim que deveria ser). Casar e constituir família, por exemplo, são "projetos" de vida que jamais devíamos aceitar tomar sem ter a certeza absoluta de o querermos. Mas, posto isto, nem tudo está perdido para todos os nossos outros sonhos. É preciso inteligência, coragem e dedicação; é preciso que nos desdobremos como super-humanos; é preciso alguma dose de loucura, até. E, a meio do caminho, descobrimos que as responsabilidades não nos cortaram a liberdade de seguir com as nossas filosofias de vida: descobrimos que elas foram ampliadas, reformuladas e negociadas com nós próprios. É aí que a nossa existência se começa de facto a tornar repleta do seu mais completo sentido... e podemos erguer o copo num agradecido brinde.

Ana Amorim Dias

Olhar

Olhar

Eu estava a olhar lá para fora, pela janela da cozinha.
"O que é que vou escrever hoje? Onde é que se vai buscar a inspiração num dia assim, tão cinzento, em que a chuva não dá nem um minuto de tréguas?"
Dei mais uma dentada no bocadinho de queijo, e continuei a olhar, entediada, para uma Quinta do Monte toda molhada.
- Estás a ver tudo o que ainda falta fazer? - perguntou o Ricardo, levantando os olhos da receita de chocos guisados que está a fazer para o almoço.
- Estou a ver tudo o que já está feito. - respondi-lhe.
Começámos a fazer nascer esta Quinta há uns quinze anos e, pelos meus cálculos, deve estar a uns sessenta por cento do que um dia há-de ser.
Saí da janela e fui tirar um café.
- Queres?
- Sim.
E depois o silêncio, porque comecei a escrever.

Para onde é melhor olhar? Para o que está feito ou para o que falta fazer? Quer dizer, isto não tem nada a ver com a velha história do copo meio cheio ou meio vazio. Aí a resposta é óbvia. Neste caso não. Neste caso é quase como olhar para tudo o que já vivemos e tudo o que nos falta viver. Para onde olhar, então? Contemplar o que está feito com orgulho e/ou cansaço? Olhar para trás com arrependimentos e amarguras pelo que ficou mal feito? Olhar para a frente com ilusões fundeadas em factos que não controlamos?
Fui olhar de novo pela janela da cozinha, para confirmar a resposta.
- O que foi? O que tens tu?
- Nada, estou só a escrever a crónica.
E foi quando ele me atacou, com um abraço apertado e muitos beijos no pescoço, que o sentido mais profundo começou a brotar em palavras.
Sentei-me de novo e agora escrevo: devemos olhar para tudo, para o que está feito e o que está por fazer; para o que já vivemos e o que nos falta viver. Devemos não apenas olhar, mas conseguir ver realmente que somos mais do que a soma das conquistas passadas! Somos, acima de tudo, a força capaz de criar o futuro pessoal em que ambicionamos viver.

Ana Amorim Dias

Chaparros irrequietos

Chaparros irrequietos

Descobri esta pérola ontem, escrita numa folha de papel que se encontrava perdida no meio de tralhas que andei a arrumar. Tive que me sentar para descansar das gargalhadas. Tenho quase a certeza que esta obra prima foi escrita numa aula de direito constitucional dada pelo Prof. Jorge Miranda... Era já o instinto a fugir para o seu território.
O texto foi revisto e corrigido por forma a respeitar o novo acordo ortográfico alentejano. Divirtam-se!


"Era segunda-fêra. Era de manhã e ê tava já derreado. O esforço de me levantar ao mêio dia deixara-me o cérebro em papas, mas o stress de um detetive alentejano tem de ficar pendurado no cabidi como se fora uma samarra esperando os gélidos dias de inverno.
O mê escritório fervilhava de vida, por causa de um livro que escorregara da estanti e caíra ao solo com grande estrondo, alevantando uma nuvem de pó ao seu redori.
Após me refazeri do sobressalto em que acordei da pequena sesta de antes do almoço, qual nã foi a minha pasmação ao ver um envelopi debaixo da porta.
Fiquei pensando naquilo até às quatro da tardi, enquanto ia mordiscando uma sande de torresmos. Por fim tomei uma decisão que só os mais valentis tomariam: alevantê-mi para apanhar a dita carta e comecei a lê-la.
Era já noite cerrada quando tomei conhecimento que o problema era realmente gravi. A missiva rezava desta manêra: "Alguém anda a mudar os chaparros de sítio!"
Alguma coisa tinha que ser fêta. Era imperativo agir de imediato, o Alentejo nunca mais seria o mesmo se deixássemos que isto acontecessi.
Decidi fazer turnos comigo mesmo para vigiar os pobres dos chaparritos: das oito da noiti às quatro da madrugada, eu dormiria e, se a essa hora acordasse, olharia em redori e tornaria a adormeceri. A canseira foi tã grandi que devo ter perdido os sentidos e quando dei por mim já tinham passado quatro dias e havia grupos organizados de genti a procurar-me planícies afora!
Resolvi o caso por ter percebido que o bilhete tava assinado pelo Zé Aguardenti, o principal bêbado da aldeia. Os dias andavam tã ventosos e a pinga tã forti, que o pobre homén pensou que alguém andava mudando os nossos chaparros de sítio!
Vá lá que tudo terminô bein e ê salvê de novo o mê querido Alentejo!"

Ana Amorim Dias



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Brilhantes brilhos

Brilhantes brilhos

- Mãe, mãe! Olha! A Lua está-se a mexer!-
- Não João, as nuvens é que estão e cria-se a ilusão de que é a Lua.
- Ah pois. Ela não se mexe assim tão depressa... Mas brilha muito!

- ...Porque a palavra "brilhante", por exemplo, tem umas oito traduções diferentes, mas encontrar a que mais se aproxima do sentido que lhe deu, requer uma atenção muito especial.
Eu estava ao telefone com a Ana, a tradutora, e sorri porque a palavra continuava a aparecer-me.

Ontem à tarde, estando triste e macambúzia, alegrei-me um pouco ao constatar que o sol, brilhante, estava a dar luta à chuva dos últimos dias.
"Hum...cheira-me que o meu pai está para me mandar um arco-íris..."
Nem dois minutos passaram até o ver, glorioso, no céu. Desviei durante algum tempo a trajetória do meu carro para ver o arco-íris de frente e recordar o meu pai. Lembrei-me das gargalhadas que dávamos quando, em alguns banhos de mar, nos chegava a maluqueira e fingíamos estar no duche, a esfregar-nos com gel de banho, perante o olhar incomodado dos demais veraneantes e a vergonha que levava a minha mãe a afastar-se de nós. Sorri. Brilhante!

O que é preciso para se ser brilhante? O que é que é necessário para viver momentos brilhantes? Como podemos aquecer os outros com o nosso brilho? Creio que tudo se resume a uma alegria sem motivos e a um pouco daquela loucura inofensiva que traz um doce sabor aos dias.
Lembrei-me da visão que o João tem da "sua" Lua, que se mexe devagar mas brilha muito, e pensei que a alegria é assim: às vezes demora a chegar mas depois... ai como brilha!!

Ana Amorim Dias

O fato-tipo-escafandro

O fato-tipo-escafandro

"Onde é que está o limpa pára-brisas agora? O Rodrigo tinha razão, um capacete integral era capaz de dar mais jeito do que este de cross, sem viseira. E um fato-tipo-escafandro também dava jeito."
- Queres adiar a aula?- tinha-me ele perguntado há minutos.
- Não. Não está a chover assim tanto.- eu não estava disposta a adiar a minha terceira aula por nada deste mundo!

"Pois, o que dava mesmo jeito era um limpa pára-brisas para óculos escuros... Bem, mas ainda dá para ver." Para me tranquilizar decidi mudar de pensamento. "Waow! Já vou a trinta!!"
Olhei para o asfalto a deslizar sob mim e não consegui impedir-me: "Será que doía muito se me espantanasse a esta velocidade?" Nunca o chão me pareceu tão duro!
"Deixa-te de imbecilidades, parvalhona! Não vais cair, tens é que te concentrar, certo?", "Sim, claro, é isso. Então vamos lá. Apertar a embraiagem e toques do pé esquerdo para cima: toca a animar isto!"
Quarenta à hora. Bem, quase.
- Ana, agora vamos entrar na rotunda e sair na segunda saída, dando os piscas.- o Rodrigo soou-me ao ouvido, através do walkie-talkie.
"Vamos? Ah, pois, vamos... Quer dizer, vou eu, não é?? Porque estou entregue a mim mesma!! Ai caraças, como é que se reduz, mesmo? Ah, sim, mudanças para baixo uma a uma e usar mais o travão de pé porque está a chover."

Algum tempo depois parámos numa estradita paralela e sem trânsito.
- Ana, no carro o que é que tu fazes antes de meter mudanças superiores?
- Sei lá, guio por instinto! "Que é o que eu quero fazer com a mota e ainda não consigo!!"
- Tens que puxar um bocado pelo carro para ele estar pronto para receber bem a mudança seguinte, certo?
Percebi onde é que ele queria chegar. Eu parecia uma tartaruga coxa que nem sequer acelerava para passar à mudança seguinte.
- Agora metes primeira e vais fazer um "U" para começarmos a treinar os "8". - disse-me com naturalidade.
- Oitos? Hum.- dei uma gargalhada interior. Repleta de sarcasmo, claro. "Oitos?? Porque é que não pedes logo oitocentos?? Estás louco ou quê? Ainda nem 100 minutos guiei no total e queres oitos???" Eu a pensar isto tudo e ele a olhar para mim, a sorrir.
- Vais até ali e dás a voltinha para trás sem pôr os pés no chão.-
"Como é bom perceber que há gente mais doida que eu!" pensei, antes de me lançar à tarefa.
Não consegui mas não andei muito longe, quem sabe na próxima aula.
Voltámos à base e acho que já vim mais solta e feliz. "Hum...Isto é tão bom... Pena ainda o fazer tão mal.", "Tem calma, parvalhona, como é que queres ter instinto em 100 minutos de prática?", "Pois, realmente...".
Guiei todo o caminho até à escola de condução a sentir-me mesmo feliz. "Ninguém nasce ensinado e isto não está a correr assim tão mal...", "Sim, mas algo me diz que correria bem melhor se tivesse as aulas como o fato-tipo-escafandro."

Ana Amorim Dias

Dá-los ao mundo | Dar-lhes o mundo

Dá-los ao mundo/dar-lhes o mundo

- Fogo, mãe!...
- Já te disse que vais chegar a horas ao teste de matemática!
Eu tinha-me esquecido do telemóvel em casa e isso roubou-nos quatro preciosos minutos.
- Oh pá...- continuou a lamuriar-se.
- Atualização de horário, filho: vais chegar com um minuto de atraso, mas a professora ainda vai estar a distribuir os testes quando te sentares.
Senti-o nervoso e lembrei-me de uma frase, que lhe repeti:
- Filho, relaxa! A pressão é para os pneus! Acalma-te e concentra-te. Não precisas de mais nada.- "Só de estudar mais", acrescentei em pensamento...

São frequentes as críticas a quem expõe os filhos nas redes sociais. "Não se apercebem do perigo?", "Jamais mostraria fotografias dos meus filhos aos milhões do mundo inteiro.", "são o meu bem mais precioso", "tenho que os proteger"... Li recentemente algo do género e, por uns segundos, entreguei-me ao ato de julgar, atividade à qual me obrigo constantemente a fugir. Forcei-me ao exercício interior das "mudanças em ponto morto": é essa a mudança interior que devemos meter quando o julgamento ao próximo nos invade. Cada um tem o direito de pensar e agir como quer, mas que isso se faça em "ponto morto", sem julgar.

Vamos então por partes.
Os nossos filhos são, pela ordem natural das coisas, os detentores do nosso mais forte e incondicional amor.
Os nossos filhos estão no mundo. Entre milhões de pessoas. Habitam a sua casa, a sua escola, a sua terra, o seu país, o seu continente.
Os nossos filhos são seres sociais, que se relacionam, vivem, aparecem, pertencem a grupos e estabelecem laços e relacionamentos sem uma carapuça enfiada na cabeça, certo? Andam pela rua e toda a gente os vê. Um dia, assim a vida o permita, serão cidadãos do mundo, a deslocar-se por ele sem medo que todos os outros seres humanos lhes queiram fazer mal. É para isso que lhes ensinamos a relacionarem-se, a protegerem-se e a confiar sem serem estúpidos.
Os nossos filhos não são o "bem mais precioso", são pessoas que tentamos encaminhar numa construção pessoal que se quer sólida e confiante.

Devíamos ter a absoluta consciência de que nunca poderemos proteger os nossos filhos de tudo. A verdade é que os braços da proteção que lhes podemos efetivamente dar são quase tão curtos como os nossos braços reais.
A melhor maneira de proteger os nossos filhos? É dá-los ao mundo. É dar-lhes o mundo. E é entendermos, o mais depressa possível, que lhes devemos fomentar as "armas" para que se saibam proteger a si mesmos!

- Confia em ti!- disse ao Tomás quando o deixei à porta da escola, um minuto depois do toque de entrada.

Ana Amorim Dias

Espelhos

Espelhos

- Não fui eu que fiz!- exclamei, ao colocar sobre a mesa a torta de amêndoa, para que não existissem dúvidas.
Eles tinham acabado de chegar à minha casa e já tínhamos o café à nossa frente.
Minutos antes, enquanto (como sempre à última hora) pintava as unhas, eu pensava na estranha sensação de esperar por um casal que me vinha entrevistar para uma revista, a mim e à casa. "Já tenho tenho tido muitas experiências, mas esta 'modalidade' é uma estreia".

O António riu-se ao ver as revistas de motas que me tinham acompanhado a espera e descansavam abertas sobre a mesa. A conversa a três fluiu com extrema facilidade como sempre acontece, aliás, com os amigos virtuais que finalmente tenho a sorte de conhecer sorriso a sorriso.
- A Ana é "pública"- disseram eles. - E é nossa!
Marcou-me, confesso. Como me marcou que se lembrassem de uma crónica escrita há quase três anos.
"Caramba... Será possível? Será possível que o que escrevo marque assim, desta forma tão integrante e prolongada?", pensei.
Levei-os a conhecer a casa, a Quinta toda, de facto. E comentaram que entendiam ainda melhor porque escrevo o que escrevo e a maneira como o faço.
- É tudo verdade!- disseram-me
- O quê?-
- A Ana é mesmo aquilo que escreve... E mais um pouco.

Quando se foram embora, depois de quase duas horas de encantamentos mútuos, deixaram-me de novo com a sensação de que a teoria dos espelhos é verídica: somos o reflexo do que conseguimos ver nos outros. Será por isso que gosto tanto de quase toda a gente? Ou será que a lei da atração me vai trazendo sempre mais pessoas que gostam genuinamente de mim?
O que sei é que, ao saírem, deixaram um amoroso contributo à alma das minhas paredes.

Muito obrigada Dina e António. E muito sucesso ao vosso "Arrendar Algarve com Paixão" e revista BPM's!

Ana Amorim Dias

Toque de genialidade

Toque de genialidade

Era a minha vez de fazer o jantar. Liguei-lhe.
- O que é que te apetece?
- Não sei. Qualquer coisa que não te dê muito trabalho.(Estes maridos modernos são um espetáculo!)
- Vá lá, Ricardo! Dá-me ideias!
- Há batatas?
- Claro!
- Coze umas quantas e faz recheadas no forno.
Ele só podia estar a gozar. Não queria que eu tivesse trabalho e dava uma sugestão daquelas?
Mas fiquei com vontade de batatas recheadas. Fui para o banho. Pensei um pouco e lembrei-me da raclete que comi em casa de uns amigos, nos arredores de Paris. "Hum... Podia fazer raclete...era prático...mas não tenho a máquina." Pensei mais um bocadinho. "Oh rapariga, então com este cérebro todo não arranjas solução?? Além disso, somos ou não o povo do 'desenrasca'?"
Acabei o meu banho e vesti roupas confortáveis. Mais um pau na lareira e batatas na panela. Cocei a cabeça. "Hum... Isto é capaz de funcionar!"
Virei a torradeira ao contrário e pus o queijo por baixo. Ao lado, a panela com água fumegante mantinha as batatas quentes por cima. Pratinhos com fiambre, chouriço e outros acepipes e, claro, um batalhão de molhos, ordenados em fileiras.
- Meninos, vocês já viram bem a mãe fantástica que têm??
- Sim, pai.- responderam de boca cheia e com o melhor dos humores.
E eu olhei para a cómica cómica visão da torradeira virada, ligada com uma extensão, entendendo que, muitas vezes, o toque da genialidade está nas concretizações coisas mais simples...e mais patetas.

Ana Amorim Dias

Primavera hoje em mim

Primavera hoje em mim

- Sssshhhh. Falem mais baixo para não acordarem a mãe!
Oiço-os ao longe, mesmo antes de saírem. Fico no nevoeiro do despertar, de olhos ainda fechados, a sentir-me muito melhor. Levanto-me e desço. O cenário dantesco da sala recorda um campo de batalha, depois de por ele passarem os mais ferozes guerreiros da história.
"Por onde começo? Pequeno almoço? Banho? Arrumações?" Vou fazendo um pouco de tudo, ao som de Louie Austen e do gratificante silêncio televisivo.
O café da manhã é tomado na rua. Sinto o sol na cara. Apercebo-me do som, constante e distante, dos insetos a voar. "Waow...chegou a primavera!"
Sei que a primavera não chega em Fevereiro, muito menos no seu início. Mas não me importo, estou na primavera.
"Temos todas as estacões do ano dentro de nós..." Começo a divagar. "Podemos escolher a poética nostalgia outonal, a loucura feliz do verão, a tranquila paz primaveril ou a fúria escura dos dias tempestuosos de inverno." Quantas vezes nos sentimos tristes e frios no verão? Quantas outras estamos quentes e felizes nos dias de tempestade? Não é tudo uma questão de escolha? Afinal, da mesma forma que todos os ambientes habitam os anos, todos os humores habitam em nós.
Entro para o carro e arranco. Esta primavera hoje em mim, está mesmo a pedir uma praia...

Ana Amorim Dias

Botaterapia

Botaterapia

Tenho a absoluta consciência da minha sorte, por não estar habituada a sentir-me mal. Deve ser por isso que, nas raras vezes em que fico muito quieta e silenciosa, o povo desta casa fica meio aflito com o facto.
Para contrariar o mal estar físico que hoje se abateu sobre mim, vesti roupa mesmo gira, pus botas de salto alto, colares, pulseiras, brincos e anéis. Pintei-me (mas isso é sempre) e considerei até a hipótese de me dedicar a pintar as unhas.
Não serviu de muito, a não ser para passar o dia todo a sentir-me mal, estendida no sofá... mas toda gira.
Ter a casa cheia e não conseguir sair do sofá. Ter um jantar em Albufeira e perceber que não vou conseguir ir... É desagradável, mas não é o fim do mundo. Esta espécie de virose (calculo) talvez se suma tão depressa como surgiu. Mas deixar de escrever a crónica? Há coisas que não são opção: nunca sei até onde pode chegar o poder curativo das minhas palavras!
Percebo que os saltos altos não servem para curar doenças, mas que fazem uma mulher sentir-se sempre mais sexy, lá isso fazem. Será que é isso? Em vez de estar para aqui a dormitar a tarde toda, devia era ter estado a admirar o cruzar sensual das pernas, e forma como as botas lhes ficam bem?
Uma coisa é certa: enquanto mantivermos a vontade de nos sentirmos melhor, nunca desistiremos de procurar as "mezinhas" mais eficazes. Mesmo quando, como é agora o meu caso, elas se resumam a uma crónica tão tosca que me arrancou gargalhadas!
Ah, e sim: já me sinto um pouco melhor. Devem ser os efeitos da botaterapia!

Ana Amorim Dias

Com as motas no pensamento

Com as motas no pensamento

Vão ter que me desculpar.
Prometo que amanhã me calo com isto das motas.
Não durante muito tempo, claro.
É que, sabem? As crónicas a que este novo fascinante universo me inspira são em tal quantidade que já comecei a escrever para uma revista da especialidade (para a semana que vem logo vos conto esta história).
Confesso que não esperava que isto me impressionasse tanto. Mas, no fundo, era o que eu imaginava e queria que acontecesse. As lições de vida, a intensidade e a paixão aceleram-se dentro de mim... mesmo a baixa velocidade. As sensações de descoberta, encantamento e liberdade até podem ser indescritíveis para muitos. Mas eu, com as vestes de mestre das palavras que envergo todos os dias, tenho, pelo menos, a obrigação de as tentar verbalizar.
A fabulosa impressão que ontem se colou a mim, ao conduzir uma mota, fez nascer tantos temas e ideias para novos escritos, que os apaixonados por duas rodas terão aqui, no futuro, muito com que se identificar.
Uma das coisas que percebi, uma vez mais, é que quem não se desafia a si mesmo não chega a perceber o que perde!
E entendi também uma grande lição sobre o domínio...
Tememos o que não dominamos. Contudo, para chegarmos a dominar e a saber fazer minimamente bem o que quer que seja, temos que investir fortemente contra a resistência inicial e entregar-nos à prática: com todo o nosso ser e toda a nossa vontade.
A verdade é que podemos tudo. Todos nós! Com mais ou menos jeito. Com maior ou menor medo: uma vez decididos a aprender e a render-nos a novos mundos, a conquista está meia feita!

Ontem passei a tarde e a noite com motas no pensamento. E hoje? Hoje acordei com a felicidade estampada em cada célula minha. Se saberei algum dia dominar bem o que temia? Tenho a certeza que sim. Porque quero. Porque posso. E porque, com o vosso apoio e incentivo, ganho toda a motivação para me inspirar mais e mais a trazer-vos cada uma das lições que for aprendendo pelo caminho!

Ana Amorim Dias

Liberdade de expressão

Liberdade de expressão

Desconfio que, para quem escreve, há algo que consegue ser ainda pior do que a indiferença e as críticas negativas: a limitação da liberdade de expressão.

Ontem ao jantar, enquanto debatíamos uma ocorrência fantástica que se deu na Quinta e alvitrávamos justificações para a mesma, foi-me pedido que não escrevesse sobre o tema. A sogrinha defendeu o seu caso e o Tomás apoiou-a. O Ricardo votou no "escreve" e o João nada disse, mais preocupado em enfardar a comida para poder ir ver os desenhos animados.
Arrumei a cozinha entre a criação cerebral da crónica (que linda ficaria...) e o dilema de ceder ou não às pressões daqueles dois seres que, quando se unem, formam uma poderosa força.

- Mãe! Tu não vais escrever sobre aquilo, pois não?- perguntou esta manhã o Tomás.
- Oh baby!! Vá lá...
- Mãe! Vou ficar chateado contigo. Olha que quando sair da escola eu vou ler o que escreveste!
- E eu bloqueio-te!- exclamei, a rir.

Jamais bloquearia o meu filho. Do que quer que fosse! E, muito embora me custe ceder a pressões que me limitam a liberdade de expressão, confesso que entendo as suas razões. Às vezes há que ceder às vontades daqueles que amamos, mesmo que isso implique penhorar valores que são, para nós, supremos. O amor vale isto tudo. Ainda assim avisei que apenas lhes estou a dar alguns dias de tréguas e que vou entrar oficialmente numa semana de negociações intensas para ganhar o legítimo e justificado direito de escrever sobre o encantador acontecimento que apenas estão a tentar proteger. O que vos posso garantir é que passei mesmo a acreditar nos impossíveis e acho que nem vou estranhar muito se, um dia destes, olhar para o céu da Quinta e vir a descerem, de pára-quedas, algumas girafas e hipopótamos.

Ana Amorim Dias

A arte de viver

A arte da viver

Tive nota máxima, hoje ao pequeno almoço.
- Excelente, mãe! Tens nota máxima neste pequeno almoço!
E tudo porque preparei ao João um copo de leite fresco e uma torrada com fiambre.
O gato roçou-se nas minhas botas e miou. Não me deu nota máxima porque deixei acabar as latinhas e teve que comer ração.
Dei uma dentada na minha torrada e regressei à questão da manhã: "Porque é que o Oscar me acordou antes do despertador tocar?" Acordei com o cérebro a sussurrar Wilde... Wilde... Oscar Wilde. "Ou seria wild? Não. Era Wilde, Oscar Wilde. Bolas, logo hoje que eu queria escrever a crónica sobre a frase de Enrique Morente!"

"Bem, Ana, vais ter que conciliar o escritor irlandês com o músico espanhol, não te resta outra opção!" concluí, enquanto guiava atrás de um trator sem me aperceber que o podia ultrapassar se quisesse.
"A liberdade é a arte de viver" escreveu Morente.
"Cada um de nós passa a vida buscando o segredo dela. Pois bem, o segredo da vida é a arte" escreveu Wilde.
"Será a arte a derradeira sublimação da liberdade humana?" pensei eu.
"Um homem que não tem pensamentos individuais é um homem que não pensa": Wilde de novo. Eu sorri. Porque penso. De facto. E muito.

Penso a liberdade a ponto de a sentir e viver. Sou livre por pensar apenas por mim, sem formatações nem cedências. E vivo a arte. Ohh sim, vivo-a ao minuto, com a intensidade de quem sente tudo o que cria.
"Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe": Wilde outra vez. "Realmente..." pensei, "realmente para existir basta respirar. Mas para de facto viver? Para isso é necessário ter a arte de pensar. E a liberdade de sentir... a arte e a vida!"

Termino a meia de leite a sentir-me feliz e viva. Entre pensamentos livres e arte sentida. O segredo da vida consiste na liberdade de pensar e sentir a felicidade ao receber a nota máxima com uma torrada de fiambre. E sim, é esta a "wild" arte de viver!

Ana Amorim Dias

Desculpa lá, mãe

Desculpa lá, mãe!

Se a coragem é medida pela intensidade dos medos que superamos, concluo que não estou, nesse campo, mal servida. Para muitos, manejar uma mota é tão banal como ir ao café. Mas para mim? Bem...para mim este bébé japonês é, de momento, o meu Gigante Adamastor pessoal. Contudo, virar as costas ao bicho e fugir apavorada não me parece uma opção.
Dizem que a vida começa aos quarenta e quero estar preparada. Já adoro viajar sozinha, faço ski, bodyboard, e até ando a ver se dou uns toques no surf. Já dou palestras, faço diretos na televisão com toda a serenidade e enfrento situações complicadas com o prazer de quem toma a recomendada dose diária de adrenalina. Já superei coisas que temia muito com a graça de quem acaba de regressar das labaredas do inferno a sorrir e, caramba, pari dois filhos sem epidural! Não é esta bébé japonesa nem a outra, a grande, que vou ter que domar a seguir, que me vão fazer vacilar.

- Sabes, Ana?- disse o Rodrigo a sorrir.- És a primeira pessoa que estou de facto a ensinar a guiar uma mota. Os outros todos já cá chegam a saber. E posso dizer-te: é muito gratificante.
Sim, porque eu não sabia de que lado se baixava o descanso e pensava que, para acelerar, o punho direito rodava para a frente!
Não tenho qualquer pudor em dizer-vos que a primeira aula foi passada em primeira (deve ter sido por isso que não me consegui equilibrar lá muito bem) . Não meti mais mudanças que o neutral e a primeira! Se me envergonho? De maneira nenhuma: hei-de aprender até usar só o instinto que nasce da prática. Hei-de encontrar o que procuro: o prazer e a liberdade que chegam com o domínio e a confiança!

Desculpa lá mãe! Desculpa-me a irrequietude que a idade não sabe abafar. Desculpa as novas preocupações. Mas sabes que sou cautelosa e que tenho em mim ferramentas para enfrentar novos perigos. Desculpa-me a determinação e a sede de liberdade. Desculpa-me querer sempre mais, de mim e da vida. Lembra-te que tenho pernas compridas e fortes e que nunca amei velocidades. E não te esqueças jamais que sou filha do meu pai, e esse acompanha-me sempre, soprando ao meu ouvido tudo aquilo que sabia...
Não sei se tomarei sob mim uma máquina japonesa, inglesa ou americana. Sei que de momento, esta bébé que respeito, me devolveu a humildade e refreou o ego de quem pensa que tudo é fácil. E se isto não é extremamente enriquecedor para o meu crescimento emocional, não sei o que mais o seja.
Por tudo isto, mãe, e por outras coisas que te continuarei a mostrar, desculpa mas vou fazê-lo!

Ana Amorim Dias

O rótulo do amor

O rótulo do amor

A mensagem dela chegou-me esta manhã. Como todos os dias me chegam tantas, com os mais variados temas, sugestões e desabafos.
Queixava-se, esta amiga que tanto adoro, dos rótulos que se nos colam como uma segunda pele e que temos, por vezes, dificuldade em desfazer e desmistificar perante os demais. Referiu que eu sou a única pessoa com quem se dá que não tem essa irritante tendência, e que foi por isso que, no meio da sua confusão, lhe apeteceu desabafar comigo.
Fiquei a pensar na minha relação com os tais rótulos e, sem demoras, respondi-lhe:
"O único problema dos rótulos é deixarmos que existam. Eu só aceito que se me colem dois: a escritora excessiva. O resto são detalhes sem importância.
Quero amar gente. Pessoas. Com amor humano. Sem me lembrar se são homens, mulheres, crianças ou anciãos/ãs; se são solteiros/as, divorciados/as, viúvos/as, predadores/as ou presas. Isso são meros detalhes e a mim importa-me amar gente. Com amor humano!
Ah e sabes? Rótulos à parte: amo-te!"

Quais são afinal os mais espartilhadores rótulos? Aqueles que nos incomoda que nos colem ou aqueles que decidimos vestir? Olhem-nos os outros como decidirem olhar-nos, desde que nos mantenhamos fieis ao que de facto somos (humanos capazes de amar com amor humano), viveremos com o único rótulo que importa: o da capacidade de amar.
E sim, o resto são pormenores sem qualquer importância!

Ana Amorim Dias

Protocolos

Protocolos

- João, tira a blusa e veste-a de novo, está ao contrário.
Virei costas e fui lavar os dentes.
- Quando eu for presidente vai-se poder usar a roupa do direito e do avesso! Cada um é que escolhe, porque eu vou fazer essa lei!- ouvi-o dizer lá do quarto.
O Tomás fartou-se de rir e, a mim, a pasta de dentes saiu-me disparada em chuveiro, claro! "Bem, pelo menos ficavam sem efeito muitos atentados ao protocolo..."

Pouco depois, ao pequeno-almoço, até deu gosto vê-los, de guardanapo de pano sobre as pernas, muito direitos, a comer as panquecas de faca e garfo e a beber o sumo de frutas com ar emproado. O hotel, em Motril, foi por eles escolhido com muita satisfação.
- Pode ser este, mãe? Pode, pai?
Olhei para o Ricardo e pisquei-lhe o olho.
- Pode, meninos. Hoje escolhem vocês!

Viajar com os putos ao sabor do improviso tanto pode ser maravilhoso como desesperante. Especialmente quando o ilustre pai das exigentes criancinhas se vai lembrando de novos planos a cada cinco minutos:
- E macacos? Querem ir ver macacos a Gibraltar? - perguntou-lhes, enquanto almoçávamos em Nerja.
- Yeeeeaahhh!
E eu nem disse nada, apesar de, mais tarde, me terem feito engolir à pressa a meia de leite em Marbella.
- Vá mãe, despacha-te ou já não conseguimos ver os macacos!
"Raios partam os macacos, detesto macacos! Estava-se aqui tão bem!"

Eram umas oito da noite quando chegámos ao cimo do cerro de Gibraltar. Macacos nem vê-los, já deviam estar a dormir. A viagem, contudo, não foi perdida. Entre roupas do avesso e imprevistos constantes, o dia foi completamente desprovido de qualquer protocolo e totalmente preenchido por inesquecíveis momentos.

Ana Amorim Dias

O máximo prazer

O máximo prazer

O espanhol desconhecido gemeu ao mesmo tempo que eu.
Começámos a rir. Eu estava a entregar os skis e a trocar as minhas botas pelas de montanha: o alívio supremo.
- Esta es la mejor parte, no?
- Nooo!! - respondi-lhe. - La mejor parte es sacar placer en las pistas! Esta es la segunda mejor sensacion!
Acabou por concordar.

Venho deslizar na montanha branca há vários anos, mas fazia-o sempre com a angústia enervante de me "destramancar" toda. E esse medinho sacana minava o sentido de tudo: o prazer; tirar de tudo o maior prazer possível!
A verdade é que desta vez ainda me dava menos jeito magoar-me ou partir o que quer que fosse, devido aos desafios físicos que me esperam durante a próxima semana. Mas nem pensei no assunto. "Hoje é para curtir, minha menina! Por isso deixa-te de merdas!"
Nem o vento nem o frio me incomodaram. Nem os pés apertados e as canelas doridas. "De corpo lançado à montanha, sem medo, caraças!" E o deslizar ganhou um sabor diferente. Usei os ensinamentos e a experiência mas, acima de tudo, libertei os instintos e aticei o prazer. "Tenho que fazer sempre assim! Em tudo! É preciso lutar pelo prazer!"

E no fim, enquanto trocava as botas de ski pelas de montanha, no tal prazer aliviado, constatei que há prazeres que só se sentem no fim de algum desconforto.

Ana Amorim Dias

E de novo, a mala

E de novo, a mala

- Mãe, quando é que fazemos a mala?
- Amanhã.
- Amanhã? Mas é amanhã que vamos embora!
- Sim, Tomás. Sabes perfeitamente que faço a mala vinte minutos antes de sair.

Esta manhã, outra vez:
- Mãe...e a mala?
"Caraças, mais o miúdo e a mala!"
- Tomás! São oito da manhã! Já fazemos quando eu te for buscar à escola. Só vamos embora a meio da tarde, filhote, não stresses, vá lá!

Normalmente não me esqueço de nada. Sou prática e tenho prática. Mas detesto. E é um bocado estúpido, dado que gosto tanto de estar sempre "a ir". De preferência sem planos, rumo aos inesperados desígnios de apetites instantâneos e atenta às curiosas surpresas dos caminhos do imprevisto.

Ontem deitei-me furiosa.
- O que é que tu tens?
- Nada.
- Ana! Eu conheço-te há trezentos e vinte e sete anos!
Quase me fez rir enquanto me aconchegava mais ao seu corpo.
- Vá, conta lá! - insistiu, apesar de ensonado.
- Estou a contactar editoras para fazer uma edição maior do último livro e estou a aperceber-me que, por já existir a minha primeira edição, ele não lhes interessa. E é estúpido!
- Tens que ser paciente. Quem sabe não descobres um caminho melhor ou alternativas que não estás ainda a ponderar?
Não lhe respondi. Realmente só contactei duas. E foi ontem. Já ando nisto há tempo suficiente para saber que estas "malas" levam meses infinitos a fazer.
"Talvez tenhas razão. Não posso planear estas "viagens" que ultrapassam a minha vontade." Mas, ainda assim, adormeci a sentir-me injustiçada.

Só agora, enquanto as palavras saem e me curam a urticária da impaciência como um eficiente bálsamo, é que me apercebo: não gosto de malas feitas com antecedência nem de viagens óbvias e programadas ao detalhe. Que enorme fortuna, a minha! É que para nos fazermos à viagem da vida da mais emocionante maneira, só precisamos da bagagem que temos em nós! E o caminho? Ah ah ah... O caminho está sempre em aberto!!

Ana Amorim Dias