(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

9.10.14

Sem desconto

Sem desconto

Decidi comprar o melhor. Não com a tonta desculpa do "eu mereço" e sim pela justificada necessidade de um melhor desempenho.
Tenho dois livros para rever muito bem antes de publicar; um outro que está histérico, aos saltos, para sair cá de dentro; e qualquer coisa como mil e duzentas crónicas e artigos para organizar. Se queria um computador capaz de enfrentar estoicamente, a meu lado, estas desejadas labutas, tinha que optar por algo realmente bom.

-Olá, boa tarde, quero um daqueles. E com a memória máxima, se faz favor.
O senhor esbugalhou ligeiramente o olhar. Não deve ser assim que as pessoas costumam efetuar compras destas.
-Ouvi dizer que tem desconto para estudantes...- eu fora prevenida com o cartão de cidadão do Tomás e uma declaração da sua matrícula.
-Só universitários.
-Ahhh...
-E professores. Os professores também têm um desconto. Dez por cento. Bem como os jornalistas.
-Pois... Mas já agora diga-me: para escritores? Há desconto?
Novo trejeito expressivo. Quase me passou pela ideia que ele estivesse a começar a temer-me.
-Não.

Para escritores não há desconto. Mas também não vale a pena porque as nossas horas de trabalho são sempre pagas a peso de ouro. Todas elas. Não precisamos de desconto, muito obrigada. Temos o fôlego suficiente para nos sustentarmos de outras formas, mantendo a energia e inspiração para escrever o resto do tempo. Não precisamos de desconto. A sério. Ganhamos tanto em prazer que tudo o resto é, numa palavra, irrelevante.

Ana Amorim Dias
11/9/2014

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