(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

9.10.14

Irmãos

Irmãos

Ele inventou a regra de sortear duas propriedades no início de cada jogo de monopólio. Virava os cartões para baixo e eu, que ainda não sabia ler, não percebia como lhe saía sempre a rua Augusta e o Rossio.
Ele não tinha com quem jogar xadrez, por isso ensinou-me...e dizimou-me vezes sem conta.
Ele ficava horas perdidas a falar-me do universo com todas as suas estrelas e galáxias e, como eu não conseguia apreender bem a magnitude daquelas dimensões inimagináveis, fez-me começar a ler Carl Sagan aos dez anos.

Chamei-o para se deitar comigo na manta estendida na relva. Falhei-lhe dos meus próximos projetos e li-lhe a crónica de que tem ouvido falar por pessoas que nem sequer me conhecem. Dois irmãos a namorar à sombra de uma árvore numa tarde de verão. Momento mais perfeito.
Estendi o braço para a selfie.
- Mano, importas-te?
Sorriu. Já não se importa.
O que me faltou dizer-lhe, neste novo dia de festa, foi "obrigada". Por ser o mano sempre presente e por, mesmo na traquinice da sua infância, ter sabido contribuir tanto para a beleza que mais prezo: a interior.

Ana Amorim Dias
25/8/2014

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