(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

9.10.14

Home again

Home again

Baixo os máximos para médios, não quero encandear ninguém. Mudo a estação de rádio, de novo. Poderia esta compulsão constante da busca da música perfeita ser um hábito irritante para terceiros, mas nada disso importa: estou sozinha no carro. Depois do barulho, o quase silêncio. Depois de horas de ininterruptas conversas, a atenção regressa apenas a mim e aos pensamentos que em breve gravarei por escrito. Depois do caos estou na ordem regrada de uma condução feita com plenos e apurados sentidos.
Não me lamento por sair e não beber. A consciência com que tudo se observa e absorve, compensa as leves euforias a que por vezes permito entregar-me. O prazer de guiar, noite fora, pela estrada das profundas inspirações que as madrugadas atentas sempre me trazem, compensa tudo.
"Ahhhh, uma música boa!!", alegro-me. "Home again", Michael Kiwanuka. Faz-me recordar os anos-luz de distância entre a oca noite de Albufeira e o pleno sentido da minha tribo e do meu chão. Recordo a enorme quantidade de grupitos que vi na noite: ou só eles ou só elas, vestidos de igual ou com faixas identificativas, provavelmente em despedidas de solteiro/a. "Nem que me pagassem fortunas embarcaria eu naquilo." Sou demasiado individualista e independente. Sempre fui. Por isso nunca pertenci a qualquer grupo. Porque odeio regras e horários e tudo o que me possa roubar o ímpeto livre do imprevisto constantante.
"Home again, hoooome again... Someday I know I'll feel home again...", canta o Michael, cheio de soul. Sorrio. Dentro de pouco, já ali, no fim da minha estrada, estarei "home again", no único grupo a que pertenço de facto: o clã.

Ana Amorim Dias
7/9/2014

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