(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

9.10.14

Filibusteiros

Filibusteiros

Notei as vizinhas das barraquinhas dos crepes e das sandes de leitão, muito agitadas. Lancei um olhar interrogativo ao Paco, o vendedor de tâmaras, e percebi que eles andavam ao ataque.
Agentes da autoridade por um lado, fiscais das finanças por outro, ASAE, enfim, o pratinho completo.
Verifiquei de novo as temperaturas dos frigoríficos e registei-as. Consultei as emoções e analisei-as. Não, eu não estava apavorada nem a correr às voltas com o nervosismo que denotava em alguns outros. Fiz, com o capitão, o melhor possível para, como sempre, ter tudo em ordem. Se acaso implicassem com algo, isso não deveria perturbar o meu prazer de ali estar.

Chegaram. Faltava a guia de transporte do pão no meu carro. Ocorreu-me perguntar ao senhor fiscal se também pedem guias de transporte aos filibusteiros que saqueiam o país e levam o dinheirinho que bem suamos para as suas contas offshore. Calei-me. No fundo o senhor até era simpático e chegou a confessar-me que preferia estar ali só a passear. Mas da multa acho que eu e o capitão não nos safamos... A menos que me recorde, assim de repente, de algo que não lhes disse: é que o pão talvez não tenha vindo de carro e sim nos alforges da burra Joaquina II.
Foram-se embora e analisei de novo as emoções: o prazer de ali estar, ninguém mo pode tirar. E quanto a faturas e guias de transporte, há algumas que jamais me poderão exigir: as de todas as crónicas que, por puro prazer, vos entrego.

Ana Amorim Dias
30/8/2014

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