(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

9.10.14

Encontrados

Encontrados

Passei a manhã do segundo dia de Outono num dos meus muitos escritórios. A manhã, inicialmente ensolarada, foi dando lugar a nuvens, vento e alguns relâmpagos. Tentei por duas vezes começar a escrever a crónica mas abortei de imediato, em ambas as ocasiões, por não estarem reunidos os dois sentimentos imprescindíveis: paixão pelo conteúdo e desejo pela forma. Não que os temas não fossem bons, simplesmente não os estava a sentir.
Decidi esperar pelo momento em que a luz se acendesse e avancei, manhã fora, a tratar de muitos assuntos pendentes enquanto as primeiras folhas se desprendiam das árvores, deixando-se levar pelo vento.

O almoço tardio fi-lo eu. Algo simples, só para mim. Sentei-me de novo no alpendre, mas tive que voltar à cozinha pelo guardanapo de pano. Foi então que reparei que eles estavam ali, na mesinha da entrada: os brincos que há tantas semanas perdera.

Acredito que a reação que escolhemos ter, perante tudo na vida, condiciona o subsequente desenrolar dos acontecimentos que nos atingem. O que é o mesmo que dizer que o nosso pensamento transforma a nossa realidade, uma vez que é o pensamento que comanda (deve comandar) as nossas reações.
Ora quando eu perco alguma coisa só há dois caminhos possíveis: ou apenas reparo que perdi o que perdi após o encontrar de novo; ou escolho a atitude despreocupada do "calma que logo aparece". Em casos graves digo adeus à coisa ou pessoa perdida e agradeço o tempo que as tive. Ponto final. O resultado? Tudo o que perco volta a mim. Tudo! Até quem perdi para a morte me regressa quando o chamo.

Acabo o meu café a pensar que agora sim, tenho a crónica do dia. Foi trazida por um par de brincos que tiveram saudades minhas.

Ana Amorim Dias
22/9/2014

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