(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

9.10.14

Desmistificar o amor

Desmistificar o amor

O Ébola que continua a matar. O conflito entre a Ucrânia e a Rússia que prossegue. Os Isis apanhados das ideias que insistem em infetar o mundo com a sua cegueira diabólica. A menina que mal chegou a viver por culpa do malfadado cancro... O sorriso que tende a apagar-se perante tanto sofrimento alheio que, por solidariedade ou receio, acaba por ser sempre um pouco nosso também.
Sinto a impotência com desgosto. Com indignação. Como se combatem estes males com palavras? E então lembro-me: estes não são os únicos males do mundo e há alguns contra os quais posso levantar a voz utilmente.

As pessoas confundem-se muito. Chamam amor à mera necessidade que têm do outro; chamam felicidade àquele instante de atenção que a outra pessoa às vezes lhes dá. E aceitam condições relacionais humilhantes sem sequer se aperceberem disso.
Poderei ser um pouco dura, mas hoje terá que assim ser.
Amar não é sentir na pele a saudade a queimar. Amar é querer a felicidade alheia com uma força maior do que aquela que usamos para almejar a nossa.
Amar não é impor comportamentos ou a ausência deles; não é exigir nem proibir o que quer que seja: é gostar do outro como de nós mesmos, aceitando os enormes defeitos a par das pequenas virtudes.
Amar não é tesão nem paixão nem desejo. Amar é a paz absoluta, a ausência total de dor e, ainda assim, a emoção mais potente de todo o universo conhecido. Quem te instruiu em contrário enganou-te. Amor e dor não têm por que viver de mãos dadas.
Agora olha para ti, com honestidade, por um minuto que seja, e pergunta-te se não tens andado a tentar mudar a pessoa que dizes amar. Pergunta-te se não lhe impões, se não lhe exiges, se não reprovas tanta coisa. Mais: pergunta-te se não o/a estás a forçar a ser alguém que ele/ela não é. Pergunta-te também até que ponto tu és mesmo tu e fiel a ti mesmo/a ao lado da pessoa que diz amar-te.

Amor? Amor é amá-lo até aos defeitos e saber perdoar tudo o que me apetecer.
Ser amada? É poder ser eu mesma o tempo todo e vê-lo a sorrir-me apaixonadamente mesmo quando faço as mais acabadas asneiras.
O que não seja assim, desculpem-me a franqueza, é pura perda de tempo.

Ana Amorim Dias
5/9/2014

Sem comentários:

Enviar um comentário