(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

30.11.12

Oração




    Qualquer dia levam-me presa!   Ninguém me tira isto da ideia.  Mas vou arriscando mesmo assim.  Se chegar a acontecer logo se vê como me defendo,  porque dos olhares  indignados estou bem habituada a defender-me… com uma dose imensa de alegria.
    Aconteceu ontem de novo:  cometi um dos vários  “delitos”  a que não sei eferecer resistência.  Vagueando serena pela imensa mesquita de Córdoba,  a rir dos enxertos católicos àquele fantástico espaço de devoção islâmica, apoderou-se de mim uma incontrolável vontade de dançar. Já estava na vertigem de um momento  divino, tanto devido à enorme carga religiosa do espaço como à beleza que lhe acrestavam as músicas que ouvia no iphone.  E então  dancei e deixei o milagre acontecer.   E dancei, dancei, dancei…  Embalei o corpo à melodia no mais belo salão de bailes onde até hoje dancei.  Rodopiei com  os sultões e as suas virgens; com bispos e papas, com Deus e Alá.  Dancei até me fundir com a felicidade mais despropositada e absoluta. E foi só quando “voltei” do embalo desta oração tão sentida, que reparei nos olhares indignados.
Ri-me para quem me olhava: ao contrário da mesquita de Córdoba, não tenciono aceitar que me venham tentar “enxertar” comportamentos aceitáveis.
Ana Amorim Dias