(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

20.9.12

Espartilhados no tempo



Mergulho na memória externa e começo a viagem ao passado.
Quem havia de dizer que a fotografia seria uma banalidade do dia a dia? As máquinas fotográficas abandonadas ao pó das gavetas e os  rolos que deixaram de fazer parte da vida há já tantos ,  são só alguns indícios de como os daguerreótipos se tornaram quase tão diários e presentes como as refeições que diariamente se tomam.
   Fotografias constantes. Prolixas. A comprovar cada momento. A servir de testemunho visual da pessoa que fomos. E do que vivemos.
Mergulho na memória externa e começo a abrir pastas. Relatos de cumplicidades. De festas. De sorrisos alegres ou de uma tristeza que ninguém soube ver.  Provas da existência quem já não está.  Documentos que atestam a veracidade de amizades que  não mais se abraçam. Texturas não palpáveis do que já foi real. Temperaturas distintas. Focagens dispersas.
  E lembranças. Muitas. Mais perenes e eternas que as imagens captadas. Memórias com cheiro, som e sabor. Com suspiros, carícias e promessas gemidas.
Mergulho nos álbuns ao som do “clic” das teclas. E vou desfolhando o passado que se rende ante o meu olhar pensativo: somos realmente quem ali se plasma? Ou quem ali mora é um fantasma de nós? Sentimos saudades de quem fomos? Sentirão os outros saudades, não de quem agora somos, mas de quem  assim sorria para a objetiva da máquina?
   Somos o produto,  sempre inacabado, da soma de tudo o que fazemos, dizemos, escolhemos? Ou uma sucessão de frames espartilhados no tempo?
Mergulho nas pastas,  repletas de fotos,  e revivo cada momento. Quem lá está não são fantasmas, são os pedaços da vida que fazem de nós quem somos.
Ana Amorim Dias