(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

29.5.12

O mergulho


   Ontem estava a contar passar o dia entre crónicas para algumas publicações, as últimas páginas de “Quatro”, umas arrumações e uns mergulhitos no mar. Mas, às nove e cinquenta, fiquei a saber que um amigo em apuros precisava de mim no Tribunal… às dez.
  Lá fui. Biquini rosa fushia por baixo de uma túnica e calças de ganga. Nos pés umas havaianas castanhas e, a completar o quadro, os cabelos sempre revoltosos de sal, colares de coloridas missangas  e outros adornos ibizengos.
   Fui à secretaria pedir uns esclarecimentos. Aproveitei e pedi também uma caneta e uma toga.
- Bom dia, Dra! – Recebem-me sempre com um sorriso rasgado. Explicaram que a toga teria que ser emprestada por algum colega. Não me preocupei. Quem tem boca tudo explica.
   Passei a manhã em espera e em inquérito. A audiência de julgamento ficou marcada para as   duas. fui a casa refrescar-me e buscar a amiga toga que sempre me acompanha nestas andanças de tentar fazer justiça. Não me livrei do biquini que a praia ainda me esperava. Voltei ao Tribunal e esperei. O costume. Mas a audiência lá se fez e, tendo em consideração o cenário, até correu muito bem. Mas foi ao sair daquele local,  tão solene e cheio de regras, que me lembrei de novo do que tinha vestido por baixo, como quem recorda a essência.
   Podemos passar a existência enganados, vestidos com togas, fatos e outras enganadoras peças de guarda roupa encenado, a pensar que somos grandes doutores, médicos, polícias ou padeiros mas, bem lá no fundo, somos inocentes selvagens que só precisam de uma tanga para se atirar ao mar e se ligar à essência da vida.
Ana Amorim Dias
P. s. – Sim. Terminei o dia com um mergulho. Gelado. Emocionante. Regenerador.