(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

2.4.12

A fuga do Chouriço (ou Como animar uma tarde chata de domingo)



    Ontem, pouco depois de escrever a crónica sobre a neura de domingo à tarde, liguei a uma amiga para me salvar da letargia.
- Olá princesa, estou cheia de tédio… - Lamentei-me.
- Então já vou aí ter. – Respondeu prontamente.
- Traz o Mixa para brincar cá na quinta. – Acrescentei.
   Meia hora depois a minha amiga Hebe, uma espécie de Heidi dos tempos modernos, mas toda fashion e elegante, apareceu com o seu borrego de estimação, criado em casa e a biberon.
  O Tomás e o João largaram o computador e vieram logo para a rua, brincar com o “primo”.
- Mãe, não achas que o Mixa gostava de ir aos estábulos conhecer os outros animais?- Quis saber o João.
  E lá fomos em excursão, debaixo da chuva miudinha, com o Mixa todo contente, a fazer tropeçar os miúdos.    Passamos pelas éguas, pelos patos e pintaínhos. Vimos os galos, as galinhas, a cabra e também a burra. Terminamos a visita no “quintal” comum dos animais a que apenas as éguas não têm acesso devido ao seu mau feitio. Ora é nesse mesmo “pátio” que moram o Chouriço e a Salsicha, um casal de porcos vietnamitas cuja burrice faz a própria Joaquina II  ( a burra ) parecer uma cientista.
   A certa altura tive a brilhante ideia de pedir ao João para correr atrás dos bichos ( para dar mais emoção à tarde, estão a ver?) , mas o pobre do Chouriço assustou-se de tal maneira que se escapuliu pela porta mal trancada ( ainda não se apuraram bem as responsabilidades de tal façanha, mas a seu tempo as devidas investigações terão lugar).
   Moral da história, seguiu-se uma hora e meia de perseguição desenfreada em que eu, a Hebe/Heidi, o Tomás, o João, o  Mixa e a Fiona (a mais velha e  anafada cadela cá da quinta que se nos juntou para ajudar à festa) corremos monte acima e cerro abaixo numa tentativa vã de persuadir o Chouriço a regressar para os braços/patas da sua amanda Salsicha. Ainda ocorreu o momento em que quase triunfámos mas o burro do porco, após três marradas convictas na parte de trás da porta da entrada do “quintal”, desistiu e fugiu de novo para o mais alto cume da quinta.
   Esmorecidos, demos por encerrado o resgate, na esperança de, com menos confusão, o Chouriço se voltar a aproximar de casa. E  fomos então comer nêsperas e buscar pares de binóculos para conseguir ver o bicho. Vai daí o João desaparece e volta algum tempo depois.   Ao fim da tarde, já eu estava preparada para mandar os meus encardidos filhos para o banho, comentei com a Hebe: - Hummm…. Aquele desaparecimento do João deve trazer água no bico. -     E ela ficou a olhar para mim sem perceber nada, enquanto eu fui à varanda de cima ( de onde a visibilidade para os estábulos é melhor) confirmar as minhas suspeitas: o estupor do moço foi abrir a porta da área comum dos animais para o Chouriço, ao regressar, ter como voltar aos seus nobres aposentos.
- HEBEEEEE!! – Gritei, enquanto descia as escadas.  -  Agora é que fugiu tudo! O João deixou a porta aberta!
  E lá fomos, a correr à força toda, com o Mixa já cansado a acompanhar a aventura. A Cabra, perdida de grávida, andava satisfeita de roda das laranjeiras. A burra apareceu do outro lado, toda acelerada,  enquanto algumas galinhas dissidentes mediam forças com os atarantados gatos.  Entre correrias e esbracejares, lá conseguimos reunir o gado, mas ainda faltava uma galinha que se colocou num sítio tão inacessível que só depois de muito cercada se deixou apanhar.
   - Não, não…. Eu não acredito… - Lamentei-me, ao ver a Joaquina II de novo à solta. – Estes bichos estão possuídos por algum espírito libertador. –
  Depois de prender de novo a burra fomos finalmente para casa e o João ainda reclamou por eu não lhe dar banho de banheira cheia como lhe tinha prometido.
- Óh filho, toma duche e desenrasca-te que tenho que fazer o jantar. Foi por tua causa que andei até esta hora a prender o gado!
- Mãe… O que é gado? – Perguntou o meu cowboy favorito, já pronto para entrar para o banho.
  Não consegui evitar um sorriso!!
 O Chouriço ainda anda a monte, mas espera-se que regresse da sua aventura ainda no dia de hoje.

Ana Dias