(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

30.1.12

Matar saudades



 - E vais por quanto tempo? – Perguntou ela,  quando lhe contei que ia de viagem.
- Dez dias. Não, onze. – Respondi.
- Tanto?? Não podias ir cinco agora e cinco noutra altura? – Propôs-me, meio embeiçada.
- Querida… Atravessar o Atlântico sai caro e é cansativo, tem que se aproveitar para ficar um pouco mais que cinco dias! – Eu sabia perfeitamente que a birrinha dela era mimo de “mana” mais nova que está habituada a ter-me sempre à distância de cinco minutos de caminho mas, ainda assim, entrei na brincadeira.
  Fui sabendo das saudades dela pelos comentários às minhas crónicas, mas foi hoje, enquanto matavamos as saudades num almoço junto ao mar, que percebi finalmente a veracidade do beicinho…
- Hoje a crónica vai ser para ti! – Disse-lhe enquanto içava o telemóvel para fazer a fotografia ilustrativa do carinhoso momento.
- … O amor prefeito… - Disse-me, olhos nos olhos, enquanto admirava, no ecrã do Iphone, a imagem que saíra.
  Sorri. Entendi-a. Não que todos os outros amores não sejam igualmente perfeitos, mas há qualquer coisa nas amizades profundas que se reveste de uma paz noutros casos inalcançável. Neste almoço percebi que,  para ela, onze dias foram mesmo demais, mas redimi-me a falar-lhe das descobertas que fiz, qual afoito marinheiro de outros tempos.  Ouviu-me com atenção quando lhe repeti, com a convicção renovada que trouxe desta jornada, que não é o que nos acontece na vida que é bom ou mau: é a forma como o encaramos que torna os acontecimentos bons ou maus. Também ela me entendeu e foi assim, olhos nos olhos, junto ao mar, que lá fomos começando a matar as nossas saudades.
Ana Dias