(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

6.1.12

No banco de trás

   Há coisas  que às vezes ouvimos e nos marcam.  Coisas banais que, à partida, se poderiam apagar em nós,  mas acabam por ficar cá dentro e vir à superfície meses ou anos mais tarde.
  Poderão pensar que estou a falar de  palavras menos boas, ditas com más intenções, mas não é, de todo, o caso.  Refiro-me a palavras e conversas mesmo banais. Mas deixem-me explicar dois casos.
  Uma amiga, com dois filhos um pouco mais velhos que os meus, disse-me, já há anos,  que adorava ouvir as conversas que os seus rebentos tinham, entre si, no banco de trás do carro. Recordo constantemente a efusividade com que o disse porque também eu me tenho divertido imenso ( e aprendido muito ) com as conversas que o João e o Tomás têm tido  no dito banco de trás.
  Uma outra banalidade que ficou em mim retida, foram as palavras de uma senhora que, num programa de televisão, afirmou que adorava os filhos por a fazerem rir tanto. Marcou-me a forma como compôs o final da sua ideia: - Basta lembrar-me dos meus filhos para começar a rir!-
  Vou ser franca: sei que os filhos não nos fazem apenas rir. Os estupores fazem-nos gritar, desesperar e  preocupar. Dão-nos preocupações; exigem dedicação;  implicam esforço e fazem-nos “perder” muitas coisas como a barriga lisa e a despreocupada vida de quem não tem quem dependa de si. Mas não há nada que se compare àquele abraço que nos dão; ao beijo lambuzado ou ao olhar de quem ainda nos vê como o mais maravilhoso dos seres. Não há nada que se compare a ouvir que somos a melhor mãe do mundo só porque lhes compramos uma carteira de cromos ou deixamos comer o segundo gelado! Não há nada que se compare a imaginar o dia em que vamos ter um neto nos braços!
  E agora percebo o porquê se haver banalidades inesquecíveis… É porque as conversas que os nossos filhos têm,  no banco de trás do carro,  se podem tranformar numa das mais belas experiências da vida.
Ana Dias