(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

21.10.11

Paixão


   Tenho sempre uma reserva de temas em espera para o vício matinal da crónica que me acompanha a meia de leite.  Já sabia, ontem, que hoje escreveria sobre a paixão, mas a certeza intensificou-se-me à noite quando, num filme que estava a ver, alguém disse: - Os antigos gregos não escreviam obituários aos seus mortos, apenas comentavam se a pessoa tinha ou não vivido com paixão. -    Não sei se a afirmação é verdadeira ou não, mas é um balanço que faz todo o sentido … porque não há sentir mais vibrante e produtivo do que a paixão!
   Se pensarem um pouco em todas as pessoas magnéticas e  contagiantes (pela positiva) que conhecem, verão que são pessoas que vivem apaixonadas. Talvez sejam apaixonados por uma pessoa, pelo que fazem, por um sítio ou pela própria vida, mas o facto de saberem colocar-se nesse estado, eleva-os para um plano superior que apenas alcança quem é louco e corajoso o suficiente para se entregar a emoções fortes.
  Quem tem a doce sorte de trabalhar com paixão nunca tem carências. Vive em abundância, mesmo que pouco dinheiro sobre depois de pagar todas as contas.  Quem é apaixonado pelo mar, surf, música, leitura, cinema ou qualquer outra atividade, sabe onde encontrar o prazer de se elevar um pouco mais…
  Mas… e quem sabe o que é sentir paixão por alguém… como reaje quando a paixão, certo dia, se esquece de lhe invadir os sentidos?  Como pode reaprender a viver sem essa vertigem viciante e sublime?
   Sempre ouvi dizer que o amor é suave e duradouro e a paixão, intensa e fugaz. Quanto a isso não vou opinar. Apenas sei que há dois tipos de gente: os que não querem sentir paixão porque lhe conhecem os perigos; e os que lutam para que a paixão volte porque já lhe sentiram o gosto.
   Mas vou um pouco mais longe… Será que há pessoas mais predispostas à paixão? E será que alguém sabe, realmente, como se reacende e alimenta esse poderoso e delirante fogo? Ou será ele algo incontrolável, que ninguém domina; algo que surge quando entende e se esvai sem deixar rasto nem hipótese de resgate? A minha incipiente sabedoria não tem como dar resposta a estas questões… apenas sei que, quando se tem saudades de sentir paixão,  ativar as memórias de momentos apaixonantes ajuda a preencher a o vazio que a sua ausência deixou.
Ana Dias