O sangue ferve. A adrenalina sobe. A respiração torna-se mais ofegante e pesada. Ela sabe o que está a acontecer-lhe…. Sente-se injustiçada. Não aceita as acusações, que sabe estarem fundeadas num pântano de medos e impotências. Ela sabe que as reações do seu corpo são um reflexo deuma emoção: a raiva. Aprendeu a sentir a raiva. A usá-la para se defender com palavras frias e retiradas abruptas.
Aprendeu a sentir a raiva e a aceitá-la como um reagente ideal que sabe diluir com o tempo. Mastiga as palavras que ouviu. Relembra-as por uma ou duas horas, não mais. Usa a raiva para destilar os estilhaços do confronto num alambique de amor.
Ausenta-se. Retira-se. Calibra-se a sós enquanto a raiva, essa poderosa aliada, se esfuma como o cheiro de um bom churrasco ao longo de uma tarde de verão. Sabe que a raiva passa e, ao passar, leva com ela toda e qualquer hipótese de que o ódio se instale.
“- Faças o que fizeres, meu amigo, jamais me farás odiar-te.” – Pensa ela. – “ Faças o que fizeres, amar-te-ei sempre… Porque em mim só cabe amor!”
Ana Dias