(...) e a confiança cega
que tenho na minha verdade
não a detém quem me nega
as asas da liberdade ...

Ana Amorim Dias

26.9.11

UM DIA HÁS-DE TER FILHOS…

   Os meus dois filhos passaram, recentemente, quinze dias de férias longe de mim. A minha crónica diária no facebook foi dedicada a eles, tanto no dia da sua partida como uma semana depois. Aqui as deixo.
Envergadura de asa
   Desde que os meus filhos nasceram que compreendi duas coisas: a existência de um amor inabalável e a dura realidade de que eles têm vida própria. Decidi começar a “treinar-me”  de imediato para esse facto… porque uma coisa é a minha vida, outra é a nossa vida em família e outra é a vida deles!   E, por mais que muitos pais o tentem negar, uma criança tem vida própria e momentos apenas  seus… desde que nasce!
   Há progenitores que, por tanto amarem, pensam que só debaixo da sua asa é que as crias estão protegidas e tentam salvaguardá-las de toda a adversidade; atender a todos  os seus quereres  e  antecipar cada necessidade, suprimindo-a prontamente. Mas também há quem, com a mesma dose de amor, os deixe perceber que cair dói, que as facas cortam, que os animais são para cuidar, que às vezes não há dinheiro para tudo… Há quem os ensine que os trabalhos de casa são para ser feitos por eles e que as guerrilhas na escola se resolvem com tacto; que a vida às vezes não sorri mas,  que se lhe sorrirmos de volta,  o sol torna a brilhar mais depressa…. Há pais que chamam as coisas pelos nomes e explicam como tudo funciona; que não contam histórias todas as noites mas,  quando contam, fazem-nas únicas, inventadas, maravilhosas.   Há pais que pedem opinião nos seus assuntos de adultos e mostram às suas crias o poder da decisão; que sabem dar carinho e ter mão firme;  que entendem que a sua crescente envergadura de asa já vai pedindo alguns crescentes voos…
   As minhas crias foram hoje de viagem… duas semanas para bem longe… Despedi-me deles de coração leve e feliz… Sei que são exploradores da vida, preparados e fortes, para as aventuras que os esperam… E agora, enquanto escrevo, tenho um sorriso rasgado e orgulhoso a decorar-me o rosto: com dez e seis anos, o Tomás e o João têm uma evergadura de asa… invejável!!!
 Saudades?...
   Já passaram oito dias desde a partida dos meus dois sóis para a Madeira… Faltam oito dias para ver de novo aquelas caras morenas e felizes; aqueles corpos robustos e saudáveis a abraçarem-me com mimo…
   A casa está arrumada; demasiado arrumada!  O fantástico silêncio começa a pesar no ar que não tem cheirado a pipocas nem a crepes. Não há brinquedos espalhados por toda a parte, nem bolas e skates a fazer-me tropeçar à entrada de cada divisão.  A piscina anda triste sem os tsunamis que surgem a cada novo mergulho que dão. O frigorífico continua cheio e os iogurtes começam a passar de prazo. Não há roupa deixada em todos os sofás, nem garrafas de ucal meias bebidas, junto à playstation. Não me tenho exaltado para que parem de implicar um com o outro nem usado a sineta cujo primeiro toque os avisa de que há um castigo a caminho ( só ao segundo toque é que o veredicto se efectiva…).
  Dá muito pouco trabalho não ter os filhos connosco ( ou não ter filhos, de todo), mas que piada tem a vida sem eles?? Não há preocupações, exaltações nem confrontos, mas os dias, por mais cheios que sejam, acabam por ser todos vazios!
 Desengane-se quem pense que estou a morrer de saudades… Nada disso! Estou feliz porque estão a enriquecer, a experimentar, a crescer e a explorar. Estão a alargar horizontes, a abrir a mente e o coração; a ficar mais autónomos e “desenrascados”… e isso enche-me de alegria!  Estou a saber saborear esta ausência na certeza de que, no próximo domingo, vinte minutos apenas após a sua chegada, vou estar a perder a paciência com um sorriso nos lábios! Estou a saborear esta ausência porque é nas ausências que o verdadeiro valor dos outros nas nossas vidas se mede! Estou a saborear esta ausência com a alegria de os estar a conhecer um pouco melhor… na arrumação da casa; na tranquilidade da piscina e dos banhos de mar; no frigorífico que não se esvazia de maneira nenhuma…
   Estou a saborear esta ausência na certeza de um reencontro divertido e de um futuro ainda mais apaixonado por estes dois maravilhosos seres com que a vida teve a gentileza de me brindar…
  É por isso que digo e repito: Não, não tenho saudades… tenho uma alegria infinita e uma gratidão inexplicável por todas as ocasiões em que me é dado a entender o verdadeiro valor das inegáveis riquezas que me compõem a vida!!!
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   Quando regressaram não escrevi  crónica alguma, limitei-me a partilhar com eles os bons momentos do dia. Ouvi-os a contar tudo em atropelo e observei a alegria com que voltaram a integrar-se no seu mundo conhecido.   Não escrevi nesse dia, mas recordei algo que o meu pai me dizia muitas vezes: “ – Um dia hás-de ter filhos….”   Fazia-o com a resignação serena de quem assina uma rendição.   Quando todos os outros argumentos para me fazer entender os seus motivos e escolhas lhe falhavam, dizia sempre esta frase, como que a consolar-se por saber que, algures no futuro, eu o viria a entender em absoluto.
    Mas tinha razão, o meu pai… Porque os filhos nascem e, com eles, o entendimento do lado de lá; a compreensão do que se sente, como progenitor, a cada regra que se impõe, cedência que se faz ou permissão que se dá!  Cada escolha que fazemos; cada “podes ir” ou “não podes ir” que pronunciamos como se de um veredicto se tratasse, são determinantes na “construção” da pessoa que os nossos filhos vão ser …
   Posso continuar a não concordar com alguns “não podes ir” que ouvi, mas já os entendo e aceito. E, por mais que a permissividade  que dou aos meus filhos seja um pouco mais ampla do que a que me foi dada a mim, sei que o resultado final virá a ser semelhante: adultos coerentes, autónomos e preparados não só para  fazer as suas escolhas como para lhes suportar as consequências.
Ana Dias

Tão estranho…

Ia de carro com a minha mãe para casa da minha irmã e ponho a tocar um cd que nunca ouvi até ao fim. De repende oiço a minha mãe dizer: - “ O teu pai gostava muito deste cantor… ai como se chama… Patxi Andion!”
“Chiça!” - Pensei – “ Eu que sou uma consumidora compulsiva de música espanhola, desconheço um cantor de que o meu pai gostava?? Como?” – A verdade é que nunca tinha ouvido falar em tal senhor e desconhecia por completo o seu trabalho. Ouvi um pouco. Aquilo não me “disse” nada… nem letra nem melodia… Passei para a música seguinte e pouco depois estávamos a chegar a casa da minha mana  onde, muito rapidamente, liguei o face. Surpresa!! Tinha uma publicação alheia no meu mural em que me partilhavam uma música…. E de quem???  Do Patxi Andion!!!
Chiça dupla….    Nunca tinha ouvido falar da criatura em trinta e seis anos de vida e levo com ele duas vezes de seguida em menos de dez minutos… Contei-lhes o sucedido. – “ Isto tem que ter um significado qualquer… É impossível que não tenha…”- foi o meu comentário, com que ambas concordaram. Fui pensando nisso ao longo do dia, enquanto esperava a hora de aprofundar um pouco mais.
Entretanto só agora tive oportunidade de a ouvir com atenção, uma e outra vez… mas nada… A letra  não me toca e a melodia muito menos… Será que há “sinais” que não entendemos logo? Será que há “recados” que só mais tarde se revelam???
Não sei se algum dia encontrarei sentido para este caso de tão grande improbabilidade (ó Carlitos, ajuda aqui, rapaz!) e caso encontre, se será o correcto… Mas também me ocorreu agora: será que esta ocorrência  aconteceu para que estas palavras nascessem? Será que terá algum tipo de efeito na vida de alguém que algum dia venha a ler isto?....  
Bem… vou ouvir mais uma vez….
Ana Dias

Quanto vales, pai?

   Há um cheiro que me acompanhará toda a vida… não o sinto desde a infância, nos dias em que corria, risonha para o teu colo. O cheiro desse cachimbo que ainda vejo nítido no ecrã da minha memória. Um cheiro suave e doce, perfeito. O cheiro de que estavas por perto.
  E o toque da tua barba? Escura e aparada, imperfeita como tu. E como eu. A mesma barba com que te conheci toda a vida e que cortaste um dia, quando todos a começaram a usar. No mesmo dia em que me foste buscar à primária e eu, que nem te reconheci, não quis ir com aquele estranho.
  Há uma voz que vai estar comigo sempre…  A voz da tua razão. Essa voz sonora e firme,  dona do sim e do não que, teimosa,  eu contestava  achando ter eu a razão. Essa voz doce e melosa que sempre e só quis o meu bem.  Talvez nunca te tenha compreendido da forma mais absoluta. Não aceitei atitudes e critiquei-te o feitio. Mas sempre te admirei e me  reconheci em ti.
  Há um sentimento bom de que vou sentir sempre o gosto! Algo único na verdade, que só tu me podes dar :  essa segurança forte, esse abraço apertado que não me deixa cair, essa âncora de força que não falha nem verga nunca. Estejas perto ou longe, forte ou fraco, sei que és e serás sempre o meu derradeiro anjo protector.
  Estás cansado, bem sei. Eu também. Mas as forças não me faltam para te deixar seguro do legado que me deste. As forças não me abandonam para te demonstrar que sim, pai, sei que tudo o que fizeste foi por bem e por amor. As forças não me vão deixar enquanto não te  fizer saber que sim, tenho a certeza  do quanto te orgulhas de mim, do quanto me admiras e torces por mim e pela minha felicidade. …
  Confia, pai. Vou honrar-te sempre porque me fizeste honrada. Vou caminhar direita e fazer soar os meus passos como tu sempre fizeste. Vou seguir o meu caminho, cada vez mais forte, sábia e confiante porque sei, pai, quem um pai nunca, nunca abandona uma filha.
Amo-te…

O bilhete

Ontem sabia que tinha que ir para o escritório.  Estava inquieta, como se algo estivesse para acontecer. Estranhei  a compulsão por tanta arrumação, em particular tendo em conta que se tratava da organização de papeis que não me atraem grandemente.  
  Acabei por me envolver numa daquelas arrumações em espiral nas quais, sem darmos conta, estamos a organizar coisas que em nada se prendem com aquilo que,  inicialmente,  temos em vista fazer.
  A certa altura já estava noutra divisão, a pegar numa caixa de papel sem qualquer interesse , cujo conteúdo só verifiquei  por descargo de consciência, antes de “espetar” com ela no lixo. Imaginem o meu espanto quando, bem no fundo da caixa, me deparo com a lindíssima letra do meu pai num pequeno envelope pardo: “ Para a minha Ana” dizia.
  Sentei-me no chão. Estava pronta para o ler.
Tirei do envelope um pequeno cartão de agradecimento impresso com uma única palavra: “Obrigado”…
  No verso pude ler:
“ Faro, 10/03/2004
Ana:
Por haveres sido e continuares a ser o que ÉS,  muito obrigado!
Continua!...
João Manuel”

  Continuei sentada  no chão algum tempo,  a contemplar aquele tesouro que o acaso me devolveu. Chorei. Ri. Ri-me a chorar e chorei a sorrir.
  Não sei o que fiz para merecer estas singelas palavras que, a não serem sentidas, jamais teriam sido escritas.  Mas sei que o que nos reconcilia sempre com a vida… e com a morte… é a consciência de termos sido verdadeiros e de nos termos entregue com essa verdade.
  A “ chegada” de mais este “sinal” nada tem de estranho ou transcendente, foi apenas um bilhete esquecido no devir dos dias que o acaso trouxe de volta…   A transcendência deste bilhete/tesouro, passa por esta crónica na qual quero partilhar convosco que cada pequeno gesto que façam hoje, pode vir a ter, no futuro,  o mais avassalador dos sentidos e conferir supremos poderes a alguém que amem.
Love you dady!
Ana Dias

Lembras-te, pai?

… De quando me levavas às cavalitas ou me puxavas pela mão, apressado para eu não chegar tarde à escola, fazendo-me correr para acompanhar os teus passos? Lembras-te das centenas de fotografias que me tiraste na infância e dos horários rígidos com que me tentavas limitar os meus excessos de adolescente? Lembras-te do momento em que me levaste ao altar e dos beijos orgulhosos e felizes que me deste na  testa depois do nascimento de cada um dos meus filhos?
   Lembras-te, pai, de cada alegria que sentiste com os meus sucessos e de cada força que me transmitiste nas “quedas” ?  Eu lembro-me, pai… de tudo, mas em particular de tudo de bom que me deste, me transmitiste, me ensinaste…. Lembro-me da tua expressão quando, há poucos meses, te apertei a mão enquanto te olhava nos olhos e te afirmava, convicta que me ia tornar numa escritora… como se pudesse transformar-me em algo que sou… Mas há uma lembrança mais forte que todas as outras, uma lembrança plasmada em papel pelo teu próprio punho… O que mais me marcou, pai, e o que vou guardar para sempre como um precioso tesouro, foram as palavras que me dedicaste na última página do meu primeiro romance, na madrugada de 8 de Janeiro quando acabaste de o ler… Escreveste: “ Com águas cristalinas também te apoiarei, também molharei os pés nesse mar e “torcerei” por ti e pela tua felicidade, minha querida filha. Grato pela tua sensibilidade e por teres sabido transmitir, às vezes de forma sofrida, a vivência da tua vida.” E sabes, pai? …Saber que partiste a compreender-me e a aceitar a minha verdade, faz-me saber que contarei sempre contigo… que molharás para sempre os pés no meu mar… que “torcerás” sempre pela minha felicidade… apenas já não o vais fazer por aqui… mas desde outra dimensão, qualquer que ela seja.
Porque como ainda no outro dia escrevi… um pai nunca abandona a sua filha….
Ana Dias

Diz-me com quem andaste… dir-te-ei quem foste…

   Olá Pai! Hoje conheci o teu amigo de sempre, o Vítor Adrião. Ouvia-te sempre falar dele com uma admiração e saudade tão grandes que se entranhou também em mim esse teu gostar.  Mas sabes, Pai? Mesmo que não estivesse já “programada” para esta enorme empatia que senti, teria sido impossível não gostar daquele homenzão forte e cativante.  É engraçado que que ele é exactamente como o imaginei:  carinhoso e culto, sentimental e envolvente… como tu.
  Quando íamos para o restaurante, confidenciou-me a chorar, que lamentava terrivelmente não ter chegado a tempo de te ver… Não resisti, pai, e abracei-o mesmo ali, no meio da rua! Dei-lhe o abraço que tu lhe terias dado depois de tantos e tantos anos sem se verem; e dei-lhe também o  abraço da filha “pequenina” do amigo de quem ele tanto gostava…
   Contou-me histórias vossas com um sorriso rasgado; contou sobre como, há dezassete anos, uniu a vida à Micá ( ias adorá-la como eu e a mãe adorámos: tem olhos feitos de mar e o sorriso da mãe Terra… ternurenta, calma, suave…), contou-me que foi ele que atravassou a baixa de Lourenço Marques com o bouquet de noiva da mãe na sua mão, porque ela lhe pediu esse favor no dia do vosso casamento.  Mas o que ele me contou com uma verdade maior nem sequer foi dito com palavras… foi dito com o olhar: olhou para mim com um orgulho e uma ternura que  só pode ter um verdadeiro amigo, alguém que te tem trazido sempre  no peito.
  No fim, pouco antes de me vir embora, ofereci-lhe o mesmo livro que te dei há meses, Mas não lhe dei apenas o “Histórias do (A)Mar”, dei-lhe o mesmo exacto exemplar  que te dei a ti, pai!  Aquele com a dedicatória que te fiz no dia 20 de Dezembro do ano passado… aquele em cujo epílogo escreveste as palavras mais valiosas que já alguma vez me disseram…  Dei-o a ele:  o único homem que poderia receber a honra de ser guardião desse tesouro!  
   Despedi-me com abraços apertadinhos, como os que te dava a ti… tenho tantas saudades desses abraços…   Por isso soube-me mesmo bem: foi como se me tivesses apertado através dos braços deste teu fantástico amigo que apenas hoje conheci…
E Pai?...  Ao ver com quem andaste, confirmo bem quem foste…
  Beijos pai… e um abracinho… daqueles!
Ana

Desvendado, o mistério!

    Escrevi ontem uma crónica sobre a estranheza de, com poucos minutos de distância, ter “surgido” na minha vida o cantor espanhol Paxti Andion (que raio de nome!) do qual o meu pai gostava muito e que eu desconhecia por completo…  Tomei tal coincidência como um sinal mas não percebi de imediato a “mensagem”!
    Os contributos de quem leu a crónica de ontem foram válidos (obrigada meus anjos…), bem como o facto de, esta manhã, me ter lembrado de ouvir a música que a minha mãe comentou ontem no carro.  Fala de alguém… fala e fala, canta e canta… e só no fim se percebe sobre quem é … pois a última palavra é PADRE (para quem não saiba castelhano: pai).  Ouvi a música uma e outra vez, lavada em lágrimas ( apetecia-me mesmo um dos abracinhos que ele me dava…)
   Mas a “mensagem” não se ficou por aqui… A publicação que o António Frazão fez ontem no meu mural (obrigada António!!) era uma canção com o título “veinte años”,  o que não me despertou nenhuma campaínha cá dentro; não entendi o que queria aquilo dizer… Mas agora liguei o Face e o meu querido Paulo Cunha ( de quem o meu pai tanto gostava ) , transformando-se de alguma estranha forma em “portador da mensagem”,  trouxe-me o elo que faltava sob a forma da publicação no meu mural da mesma música que o António tinha publicado, mas com outro título!!!!!   Adivinhem qual….  PALABRAS!!!!   (Parece que a canção tem dois nomes…)
   Pois é meus caros… Agora tudo faz sentido!!!    Pai !!...  Palavras!!....
  Dedico-as a ti, pai! Todas elas!  Obrigada por me continuares a mostrar o caminho! Obrigado por me teres feito ir buscar o dicionário tantas  e tantas vezes quando era miúda; por me teres instigado a amar e respeitar esta língua maravilhosa ( e lixada como o caraças….)
   Gracias  Padre… por las Palabras…. E por continuares a encontrar “meios” de, através de pessoas maravilhosas, me mostrares o caminho….
Ana Dias

António

Estava eu a tomar banho e a preparar-me para vir para o Bar fazer caipirinhas, quando me lembrei do António. António Lobo, ou Tó louco como todos na vila lhe chamavam… O António tinha uma visão da vida completamente arrojada e fora do comum, talvez por isso lhe chamassem louco. Mas, de todas as grandes lições que com ele aprendi, a mais valiosa foi a de que o amor é possível… mesmo quando é um amor impossível! 
   E, algum tempo depois de conhecer o António e todas as suas fantásticas sabedorias, recebo um telefonema do meu pai…
- “ Ana?”
- “ Olá pai! Como estás?”
- “ Deitadinho! A ler… E tenho que te dizer: estou fascinado com o António! Gosto mesmo dele! De todas as personagens, o António foi o que mais me cativou! Gosto mesmo do sujeito…Parabéns filha!”
  E hoje, enquanto tomava o meu banho, punha os meus colares e pulseiras e pintava os olhos com esmero, percebi que tenho saudades do António, do meu pai e do meu amor. Estão todos, de uma estranha forma, simultaneamente  ausentes e também presentes… Todos vivem em mim. Viverão sempre. Porque, como dizia o António, em “O velho farol”, para um amor existir, não precisa de se concretizar, estar presente, ou ser perfeito. Para um amor existir, qualquer amor que seja… nada mais é necessário: apenas sentir!
Ana Dias

Não é pela força…

… Que se toma o coração de uma mulher. Nem o de um homem, também. Não é com pressão ou chantagem que se consegue o regresso a um passado de amor.  Se nada se perde e nada se cria, apenas se transforma, então porquê tanta dificuldade em aceitar que os sentimentos se transmutam em algo diferente?
 Sem dúvida que, para quem ama, aceitar que já não é amado é o mais duro dos golpes… Como agir nesse caso? Lutar, em desespero, por um sentimento que nem sequer mudou, apenas se alterou para amizade, tolerância ou indiferença? Lutar pelo amor perdido é coragem, loucura ou simples humilhação?
 E que dizer de quem, após tantos anos de amor, descobre que o sentimento que tem não é amor e quer seguir com a vida a sós (ou com um novo amor nascido)? Quem já não ama terá obrigação de se manter num casamento (ou relacionamento ) sem amor? Quem já não ama terá a obrigação de ficar nesse conto, outrora de fadas, por respeito ao passado, à casa e aos filhos? Quem mudou o sentimento de amor para simples companheirismo não terá, mais que o direito, a obrigação de o transmitir ao outro?
O tempo corrói a paixão. O dia a dia faz definhar o amor por tantos motivos diferentes… Há casos, poucos, de sábios seres, abençoadas pessoas, cuja sabedoria e empenho conseguem reavivar a cada dia esse montro sequioso que é o amor, o puro, perfeito e absoluto amor. Mas a maioria dos casos consiste em casais que o tempo matou; o que mais há por aí são relacionamentos sem fogo, sem paixão, sem comunicação, em que o “amo-te” diário se diz decorado e não declamado! São tantos os casos em que perfeitos estranhos se dizem família sem compreenderem que a vida assim não é vida, é apenas um fantasma vivo do morto passado; é apenas  uma farsa conjunta em que os actores actuam sem ensaio no palco da vida…
  E quando alguém insiste em querer que o sentimento volte, quando se perdeu para sempre, (transmutado em outro sentir), aí começa a batalha da força, aquela que nunca ninguém venceu  nem poderá vencer. Quando alguém quer o sentimento do outro de volta a qualquer custo, a qualquer preço, se o amor já lá não está, nada há a fazer a não ser talvez ter esperança que um dia volte.
  Mas quem deixou de amar que nunca sinta a culpa! Nunca! Não é uma escolha nossa, tal como não o é nascer ou morrer. Ninguém é culpado por deixar de amar, como não o é também por começar a fazê-lo. Por isso, caso o sentimento de amor tenha dado lugar a outro, não se culpem;  aceitem. E escolham como querem viver… Na farsa… ou na verdade???
Porque não é pela força que se  toma um coração… O corpo talvez, a vida também. Mas o coração… esse é sempre nosso e só vai para onde entende… para onde ele próprio escolhe ir.
Não deixem o coração sozinho. Acompanhem-no sempre e aceitem as suas escolhas. Só assim não estão a enganar o mundo. Só assim não se enganam a vós mesmos!
Ana Dias

Limites

Há quem viva de acordo com o que se espera de si. Há quem viva no respeito do que espera de si mesmo.
  Há quem respeite os limites que a sociedade lhe impõe. E há quem estique esses limites até “jogar” o jogo da vida com as regras por si criadas.
  Se, como diz o povo, a sorte protege os audazes, deveríamos  confiar um pouco mais na nossa audácia e segui-la,  sem insónias, sem  receios… sem suores frios. 
   O rebanho social não quer a diferença; não a aceita; não a tolera sequer. As regras instituídas não querem ver nascer novas regras; não pretendem deixar-se esmagar por desvios e novas ordens.
  Quero perguntar-te algo muito simples… Tu julgas os outros? Julgas a sua roupa, as suas escolhas, as suas atitudes? Tu julgas o rumo que os outros dão às suas vidas? Julgas as suas condutas ? Consideras algo certo ou errado, moral ou imoral??  Pergunto isto porque, de cada vez que julgamos outro Homem, entramos nessa teia gigantesca que quer prender o livre arbítrio de cada Ser… Pensa antes de julgar. Lembra-te que não conheces o sentir e os motivos do outro na sua escolha. E por favor… tenta não impôr a ninguém aquilo que achas correcto que faça. Procura, antes, ser coerente com o que REALMENTE QUERES FAZER! Porque, sabes?... Os limites a ti mesmo, só tu os podes criar!
Ana Dias

Batom, saltos altos… e confiança

Nós mulheres temos uma forte tendência para a auto-crítica; para levarmos demasiado a peito cada imperfeição do nosso corpo… Não defendo que baixemos os braços nesta árdua e perpétua luta contra a celulite e contra algumas teimosas rugas que o tempo nos vai trazendo; não apelo ao fim das nossas batalhas contra o excesso de peso ou contra inestéticos pêlos… Muito pelo contrário: devemos valorizar o nosso corpo da mesma forma que temos vindo a valorizar, ao longo do tempo, a nossa mente.
 Mas não nos podemos esquecer do mais importante: amar-nos mesmo nas imperfeições… Senão vejamos: como pode ser que haja pessoas tão perfeitas que são “pãezinhos sem sal” e outras, absolutamente banais, que nos prendem com um magnetismo inegável? O que marca a diferença entre um ser belo desprovido de graça e um ser de aparência comum com um carisma e uma sensualidade capazes de render todos ao seu redor? A resposta é breve e composta de quatro características apenas: amor-próprio, alegria de viver, optimismo e  confiança… Sim… é tão simples quanto isto… ou tão difícil, não sei….
O amor-próprio faz-nos passar pela vida de bem com todos por estarmos bem com a única pessoa que nos acompanha sempre: nós.
A alegria de viver é o melhor atractivo que alguém pode ter, afinal quem não quer estar por perto de um ser que respira, transpira e inspira alegria?
O optimismo é contagiante e não só faz com que a nossa vida corra melhor como a de todos os que nos rodeiam…
E a confiança… Bem, a confiança inspira segurança e tranquilidade. A confiança dá confiança. E todas estas são características que quem tem pode esbanjar aos demais: se soubermos ser assim estamos a energizar os demais, estamos a transmitir-lhes estas características, a inspirá-los a desenvolverem-nas…..
Por isso minhas senhoras, liguem um pouco menos à celulite e às rugas, comam o bolo que vos apetecer, com alegria de viver, optimismo e convicção; façam-no de forma sensual e repleta de amor-próprio…. Mas antes disso, saiam para a rua bonitas e confiantes… Se para tal precisarem da ajuda de batom e saltos altos não hesitem…. Afinal é para isso que servem: para deles retirarmos o início do amor-próprio, alegria de viver, optimismo e confiança que temos que começar a desenvolver cada vez mais!
Experimentem!!
Ana Dias

Afinal o que é o sucesso??

  Quando andava no liceu, a estudar afincadamente para ter média para entrar na faculdade que queria, pensava que  o sucesso era ter boas notas, formar-me com boas média e ir trabalhar para uma grande empresa de advogados, onde, seguramente, faria uma carreira brilhante.   Ou então sucesso era estabelecer-me por mim própria, como advogada de província e “fazer um nome”… Um nome que fosse uma referência e um porto seguro de competência para quem a pudesse pagar.
   A minha noção de sucesso mudou tanto vida fora que só me lembro de uma  expressão para transmitir o que sinto… “ c’um caneco!!!”  
   “ Mas como pode a doutora dizer coisas dessas em público?” poderão pensar alguns incautos leitores que ainda pouco conhecem de mim…  “ Afinal não é isto que se espera de uma doutora…   
 Pois bem , esta “doutora” ( que nada mais é que uma pessoa como qualquer outra) vai-vos dizer o seguinte:  acumulo várias ocupações profissionais em vários sítios diferentes;  sou dona do meu tempo e da forma como organizo os dias … Posso usar a roupa que gosto e escapar-me até ao mar a qualquer hora que queira… Não dou satisfações a ninguém embora tenha os adoráveis prazos  (podem rir o que quiserem mas eu gosto mesmo de prazos!) …  Amo tudo o que faço com uma paixão que não esfria e, embora sem grandes luxos, não me posso queixar da vida….   Além disso, tenho tempo para os meus filhos cuja qualidade de vida me faz sorrir de prazer!
   Por isso,  ao olhar para trás e  ver que a minha jovem visão de sucesso em nada corresponde à minha vida actual, fico satisfeita com o facto!   Percebo que,  assim,  sou muito bem sucedida… muito mais do que se me tivesse mantido fiel ao projecto juvenil… Porque o sucesso, como  diz o outro, é mesmo ser-se  feliz!!!
Era bom que a crónica acabasse aqui, não era???   Mas não! Não vos dou esse gostinho!  Não sem primeiro vos deixar a pensar….  
“Ora diz lá…. Tu tens sucesso?????”
Ana Dias

Acreditar no impossível

    Todos vivemos em dois mundos. No real, em que a vida passa a correr, entre mil obrigações e pouco tempo para nós; e no mundo dos sonhos em que a vida é perfeita e sem a mais pequena das falhas.
   O  mundo real é feito das correrias diárias para não chegar tarde ao trabalho; feito  dos gritos dos miúdos  a lutar pela nintendo enquanto espalham  migalhas de bolo pelo banco de trás do carro; é composto pelas críticas dos pais e a incompreensão dos filhos; o mundo real são contas para pagar e férias adiadas; é a falta de companhia por parte da nossa cara metade e são os sonhos que deixámos para trás porque havia sempre algo ou alguém a precisar mais de nós do que nós.
   Mas o mundo dos sonhos também existe, vindo à luz a cada momento em que, depois de gastarmos o corpo e o espírito com tudo o que nos rodeia, nos permitimos um momento para nós, em que voamos para aquela ilha deserta com a nossa paixão, longe de pais intrometidos e filhos ladrões de tempo. Partimos para longe do trabalho já sem graça,  das consultas do dentista e de tudo o que há sempre para fazer numa casa. Nesse momento só nosso, pensamos como seria se o sonho tivesse nascido: se o cantor que há em nós tivesse ficado famoso ou se o livro que não escrevemos fosse argumento de um filme. Perguntamos onde está o par com que sonhámos, que faria de nós o mais amado dos seres. E, sonhando mais um pouco, imaginamos a vida diferente, sem trânsito nem jantar para fazer enquanto ajudamos as crias com os trabalhos de casa… e imaginamos  a mesa posta e com velas, numa varanda junto ao mar, ouvindo uma doce melodia a acompanhar a louca paixão que sentimos. Vemo-nos com uma carreira de sucesso, felizes com o que fazemos, tendo o tempo e o dinheiro para realizar outros sonhos…
     Mas esse momento acaba porque a guerra pelo comando da tv voltou e é preciso deitar os miúdos e descongelar os bifes para o jantar de amanhã enquando respondemos a duas chamadas de trabalho. Sentimos que o momento se foi, com um amargo na boca porque a vida nos traiu:  porque os filhos e a cara metade  não são bem os poços de virtude que esperavamos que fossem; porque sentimos a culpa de um casamento que não funcionou ou porque o trabalho que temos nada mais é que a  garantia do nosso sustento.
    Mas a verdade é só uma: não há impossíveis. Enquanto acreditarmos em nós mesmos e nas nossas capacidades, podemos tudo! Podemos realmente tudo! E não são só os exemplos de velhinhos a atirarem-se de pára-quedas, ou mulheres de meia idade a catapultarem-se para a fama em concursos de tv que nos devem inspirar!   Afinal cada um de nós tem mais capacidades do que alguma vez sonhou ter: basta recordarmos todas as situações em que nos superámos a nós mesmos e nos surpreendemos com a força que não sabíamos possuir…
    Como pudemos, então,  fugir dos nossos sonhos? Quando é que isso aconteceu? Que autoridade temos para nos julgar a nós próprios, dizendo que não somos capazes; pensando que o nosso tempo já passou? Porque razão não acreditamos que podemos tudo quando a nossa realidade é feita da prova  de que conseguimos muito mais do que tudo?
   É preciso recuperar os sonhos, os nossos mais ambiciosos sonhos, para a secção das possibilidades.  Podemos começar por fazer o jantar a ouvir a nossas músicas preferidas no mp3, isolando-nos dos selvagens seres a quem tanto amamos, e partir na (re)descoberta dos nossos sonhos mais loucos. Podemos avançar um pouco mais e faltar uma tarde ao emprego só para olhar para o mar e sonhar um pouco mais. Até que nos acaba por chegar a luz da concretização; até que o sonho começa a ganhar vida própria e a tornar-se real no nosso interior. Chegando aí, meio caminho está percorrido.  É fundamental acreditar!
   E é possível usar os maus momentos para dar nova vida aos sonhos; ver um divórcio ou um despedimento, não como o fim de uma etapa, mas como novas portas a abrirem-se no horizonte das nossas expectativas.
   Temos que acreditar que somos capazes; que temos em nós tudo o que é preciso para lutar pelo que sonhámos e que chegará o dia de apreciarmos o doce sabor da nossa (grande ou pequena) conquista.  E temos que perceber que o dia de hoje é uma altura tão oportuna como qualquer outra para começarmos a devolver a nós próprios o sonho impossível. É a altura certa para começar a traçar um plano; para começar a acreditar. Porque enquanto acreditarmos, não há mesmo impossíveis!

Ana Dias

Abundância

   Viver em abundância implica muito mais do que ter muito. Viver em abundância é um estado instrínseco que faz com que nada falte e nada se esgote…
  Há dias, um estrangeiro barulhento e ruidoso com quem tive o privilégio de estar um pouco à conversa, comentou no seu carismático tom: - “ I’m a happy person! No one can change that!!” E acrescentou que não percebia porque é que havia gente famosa, rica e com tudo para ser feliz,  que cometia suicídio! O que lhes falta, afinal??  Abundância exterior  não é pois têm tudo… Será que lhes falta a abundância interior? Aquela que faz com que pessoas simples se tornem heróis; que faz com que pessoas remediadas tenham muito para partilhar; que faz com que simples anónimos tenham toneladas de amor para “descarregar” sobre o seu semelhante…
  Vejo a verdadeira abundância como uma nascente cristalina capaz de brotar no interior de cada um de nós. Uma nascente com uma corrente forte e inesgotável de onde jorra a coragem, o optimismo e a gratidão. Uma nascente de onde pode sair uma constante vontade de partilhar, de amar e de perdoar.
  Abundância verdadeira é a que temos cá dentro; aquela que, se não existir, torna o mais rico dos homens no mais miserável ser. A abundância, para mim, é pensar em grande e com amor; é usar palavras de paz e de inspiração; é agir nas mais simples acções com uma envolvência épica e ter a valeidade de pretender mudar o mundo. A abundância, para mim, é projectar uma existência grandiosa e vivê-la em plenitude…
E se tratássemos  de pôr as nossas nascentes a jorrar… com abundância… ??
Ana Dias
 

A força de um olhar

 Um olhar, um simples olhar, pode por vezes encerrar em si o maior dos poderes.  E se  a sabedoria popular diz que os olhos são o espelho da alma, o que dirá das emoções que eles encerram?
  E porque acontece, tantas vezes, que as pessoas se falem sem se olharem? Teremos medo que o olhar nos traia, transmitindo ao nosso interlocutor que não sentimos realmente o que estamos a dizer?  Porque não olhamos  os outros nos olhos?  Será esse acto uma entrega demasiado íntima?  Estaremos a desproteger-nos com tal contacto?
   Quantas vezes olhamos directamente nos olhos da pessoas a quem falamos, conhecidos ou desconhecidos? Quantas vezes sustentamos as nossas palavras com a sinceridade do olhar?
  Ao longo de uma simples manhã podemos falar com inúmeras pessoas:  familiares,  colegas, a senhora do café ou o carteiro. E, de cada vez que falamos, (ou ouvimos) será que realmente os olhamos?
  O que será que tanto nos assusta, para que fujamos do mais natural dos contactos? É sabido que o olhar tanto pode encerrar em si bençãos indescritíveis como as mais temíveis ameaças. Um olhar ternurento ou agradecido pode manter-nos a sorrir durante muito tempo e um olhar de raiva leva-nos ao pior pesadelo. Se recebemos um olhar de medo, a superioridade que nos faz sentir vem com um sabor amargo; se o olhar é de admiração, o ego sobe-nos a inacessíveis cumes e, se é de pura tristeza, inspira-nos a piedade.
  Tão poderoso é o olhar. Se sustenta as nossas palavras, dá-lhes redobrada força, mas se as trai, rouba-lhes todo o valor. Porque os olhos não mentem. E são o espelho da alma.
   E o que acontece se, ao longo dos nossos dias, nos forçarmos a olhar? E se nos cruzarmos com quem connosco partilha a vida e os olharmos nos olhos, logo pela manhã?  E se, ao pedirmos o galão e a torrada,  o fizermos com um olhar de sorridente simpatia? E se o bom dia dito aos colegas for realmente desejado e subscrevermos a banal afirmação com o mais genuíno olhar?
   E se procurarmos o olhar alheio, sustentando-o, para nos fazermos ouvir com verdadeiro sentido? Que consequências trará tão gigantesca ousadia? Atrevo-me a antecipar resultados assombrosos. Estamos de tal forma habituados a não usar o olhar que lhe esquecemos o poder.
  E atrevo-me a deixar o desafio… De comunicar não só com palavras, mas com a mais fenomenal ferramenta. Aquela que deixámos de usar pelo medo de nos darmos e, acima de tudo, pelo receio de receber. Desafio-nos a olhar. Olhar nos olhos e sustentar esse olhar. Dando  um bocadinho de nós; do nosso carinho, agradecimento e verdade; dando um pouco do nosso íntimo. Desafio-nos a olhar e esperar, enquanto olhamos, pelas vindouras bençãos….
Ana Dias

“A felicidade é para quem se basta a si mesmo.” Aristóteles

Será?? Ou será, essa, uma forma de nos sentirmos seguros depois de termos experimentado a veracidade do lugar comum: “ o inferno são os outros”?  Poderemos ser realmente felizes a sós? Sem dúvida quem sim… Mas poderemos sê-lo para sempre??
Já ouvi disser: “o único romance que pode durar para sempre só pode ser alcançado quando conseguires amar-te  a mim mesmo!”…. Mas o que dizer daquelas pessoas (entre as quais me incluo) que mesmo amando-se muito, têm consideráveis “arrufos” consigo próprias?? Será que o romance connosco pode ser o suficiente para se viver em felicidade?? Acredito que sim… como acredito que o eterno namoro com nós mesmos é a condição sem a qual dificilmente poderemos encontrar o verdadeiro amor por parte de outrém…
Porque, embora a felicidade seja para quem se basta a si mesmo, a plenitude só é para quem ama e é amado….
Ana Dias